exigências são uma humilhação, ministro! Não quero desmoralizar-me, dando ordem desse teor aos
meus subordinados... E... digo-lhe mais, se eu fosse o Comandante do IV Exército, não as cumpriria.
Permitir que médicos norte-americanos venham examinar o preso aqui no Brasil, além de um
insulto é um achincalhe com os médicos brasileiros. Não admito, ministro!
Punir meus oficiais, por quê? Em última análise, eles cumpriram determinações minhas. Nem
pensem nisto!
AS - Vou reclamar, ministro Frota, energicamente, junto ao governo americano!
SF - É o que deve ser feito! Diga ao presidente que eu autorizarei as visitas diárias ao pastor Morris,
durante alguns minutos.
Encerramos o diálogo e logo a seguir entendi-me telefonicamente com o Comandante do IV
Exército, solicitando-lhe remetesse para Brasília toda a documentação relacionada ao caso, visto que
pretendia levá-la à apreciação do presidente.
Na audiência presidencial conversei demoradamente com o general Geisel sobre as ocorrências
de Recife e o procedimento do embaixador norte-americano John Crimmins.
Não restavam dúvidas quanto à participação do pastor Morris em atividades subversivas nem
poderiam ser feitas acusações, por mínimas que fossem, ao tratamento que recebera.
O presidente decidiu expulsá-lo do Brasil, no que fez muito bem.
A 5 de dezembro comemorava a República Peruana a vitória de Ayacucho com uma recepção na
sua embaixada, em Brasília. Ali compareci e encontrei o adido das Forças Armadas norte-
americanas, general Arthur Moura, oficial muito estimado entre os seus colegas brasileiros, a quem a
sua Pátria deve relevantes serviços na aproximação entre os militares dos dois países.
Conhecidos de longa data, conversamos sobre o caso do pastor Morris. Lamentei a atitude do
embaixador Crimmins e disse-lhe estranhar a desconsideração daquele embaixador, enviando uma
nota ao nosso Ministro das Relações Exteriores em termos grosseiros e ofensivos.
De início, calou-se o general Moura, mas como eu persistisse em minhas recriminações,
declarou-me que chamara a atenção do embaixador Crimmins para o texto do documento, mostrando-
lhe que a sua redação era insultuosa ao povo brasileiro. A resposta do embaixador foi de que não a
modificaria e que ele, Moura, se dirigisse ao Pentágono caso quisesse.
O embaixador Crimmins não gozava de simpatia na área do Exército, por suas atitudes de afetada
superioridade e, também, pelas suas constantes tentativas de interferir na vida política interna
brasileira. Sua atuação no caso do pastor Morris, bem como em outros fatos a que farei menção,
confirmou as insistentes informações de que não era ele um amigo do Brasil.