IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

recente amizade do Brasil com a China Comunista e, por isso, acreditava no ajuste do nosso governo
com a corrente progressista. Jactou-se de que o governo brasileiro já aceitara a colaboração de
correligionários seus em vários ministérios.'


Todos estes boatos e informes, ainda que devidamente filtrados, chegavam à tropa por vias
indiretas, proporcionando razoável aumento de tensão.


Aconteceu por esta época, precisamente no dia 11 de maio, um fato sobre o qual, até hoje - pelas
circunstâncias contraditórias a ele relacionadas - não consegui firmar uma apreciação lógica.


Procurou-me àquele dia, pela manhã, em minha residência no Rio de janeiro, o atual general-de-
exército Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, meu amigo desde os últimos anos da década de
1930, quando juntos servimos em Curitiba. Comandava a 1á Divisão de Exército e vinha trazer-me, a
meu pedido, alguns esclarecimentos sobre fatos passados no 150 Regimento de Cavalaria
Mecanizado. Ouvi as informações solicitadas e a conversa descambou naturalmente para a situação
política. Mostrou-se muito apreensivo com o crescimento da subversão, o que não me surpreendeu
porque era tema usual. Relatou-me então que na véspera estivera na casa do general João Baptista de
Oliveira Figueiredo - de quem era e é amigo incondicional - e tinham examinado, cuidadosamente, a
situação nacional. Achavam a conjuntura muito grave.


Após mais algumas considerações, disse-me:


  • O João manda dizer que se continuar assim, dentro de dois anos estaremos em situação pior do
    que a do governo João Goulart e que, neste caso, nós teremos que virar a mesa, com ou sem o Geisel.


Fiquei pasmado com a declaração que tinha um inegável sentido de pergunta. Assomaram-me à
mente as duas considerações possíveis: tratava-se de uma sondagem ou de uma comunicação sobre
decisão tomada, trazendo em latência um convite a apoiá-la.


O que pretendia o general Figueiredo, Chefe do Serviço Nacional de Informações e homem da
absoluta confiança do presidente Geisel? Aferir minha lealdade ao presidente? Constituir um grupo
militar para, ante a ameaça crescente do comunismo, dar um golpe de Estado, com ou sem o
presidente? Ou seria uma atitude impensada, fruto de seu temperamento impulsivo?


Somente o general Figueiredo poderia responder com precisão; no entanto, julgo pelos
acontecimentos posteriores ter sido a primeira hipótese a mais provável.


Admitindo conhecer o general Pires, não o julgava capaz de iludir um amigo com frases
ardilosas, contudo repugnava-me aceitar a hipótese da trama conspiratória.


Urgia uma resposta e dei-a aproximadamente nos termos seguintes:

"Acho que vocês estão exagerando; o chefe (referia-me ao presidente) não deixará que a situação
chegue a este ponto. Penso que está experimentando até onde poderá levar a abertura. Em caso de

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