IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

encaminhada ao "caríssimo chefe", a publicação traria "desconforto e amargor" para Frota e sua
família. Acreditava que o governo Figueiredo e o alto-comando do Exército tentariam impedir a
publicação do livro e que Frota responderia a processo judicial civil e militar. Encerrava com a
frase: "Aconselho-o a não publicar; ou, pelo menos, só fazê-lo postumamente."


Em entrevista concedida ao CPDOC da Fundação Getulio Vargas no dia 2 de março de 1993,
Fiuza de Castro contou que Sylvio Frota escreveu


um livro dizendo muitas coisas, mas eu o convenci a só publicar esse livro postumamente. Eu li o
livro. Se ele for colocar o que coloca ali, que contraria muitas das versões correntes em muitos
casos, será apenas mais uma versão. A dele pode ser considerada verídica, pode ser verídica a
do Geisel, pode ser verídica a de não sei quem. Agora, ele tem provas do que afirma. Mas ele
não deveria ter, porque são documentos secretos. E ele está bem consciente de que é crime estar
de posse de documentos secretos. Está escrito no Código Penal. E se ele publicar o livro sem os
documentos, o livro não tem valor. E se ele publicar o livro com os documentos, é crime. Está
entendendo? Então, o que eu sugeri foi que ele entrasse em contato com um editor e deixasse por
conta do editor a responsabilidade da edição do livro depois da morte dele, porque aí ninguém
pode julgá-lo.

Após o retorno do governo aos civis em 1985, e diante do que encarava como uma"campanha
contra a Revolução", motivada por um espírito "revanchista" contra as Forças Armadas, a posição de
não publicar o livro foi reforçada. Frota, segundo seu filho, temia que pudesse parecer que ele queria
se aproveitar da situação para fazer coro com os que "falavam mal" do Exército. Temia também
prejudicar a carreira de seu filho, então capitão-de-mar-e-guerra da ativa.


Ao final da década de 1980, Sylvio Frota quase não mais enxergava. Sofreu degeneração da
mácula e passou por uma cirurgia de catarata, restando-lhe apenas cerca de 10% da visão. Somada a
dificuldade para ler a problemas circulatórios, não teve mais ânimo para retomar o livro. Sua esposa
faleceu em 1993, e Frota ficou morando com a filha solteira no apartamento do Grajaú. Já abalado
por uma esclerose, faleceu em 23 de outubro de 1996.


Em 2002, seu filho passou para a reserva. No ano seguinte levou o texto datilografado do livro
para Brasília, onde morava. Sylvio Frota havia feito alterações nas duas cópias datilografadas, e o
filho teve que cotejá-las. Constatou que o texto estava completo, mas achou que, para o livro ficar
pronto, deveria alterar alguns detalhes de forma, completar ou corrigir algumas informações e
subdividir partes dos capítulos. Em suas palavras, procurou "não escrever nada'; pois o livro era de
seu pai. O trabalho foi iniciado com tesoura e cola, pois o filho não tinha, na época, computador. A
partir da metade do livro, passou a usar o computador e fez uma relação do que havia alterado. Para
esta edição final, no entanto, foi consultado o manuscrito e foram completamente revistas as duas
cópias datilografadas. Todas as modificações (que não eram muitas) foram examinadas - e, na
maioria dos casos, restauradas as versões originais - no trabalho de restabelecimento final do texto,
quando este já estava na editora.'

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