IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

perigo fechará tudo."


Não se falou mais no assunto e o general Walter Pires retirou-se dizendo que estaria na tribuna
de honra do estádio do Maracanã.


Não fiquei todavia tranqüilo, porque considerava o tema abordado em nossa palestra muito
delicado e grave. Telefonei, mais tarde, para o estádio do Maracanã e, com o propósito de modificar
sua opinião, repeti-lhe meus argumentos anteriores.


Fatos posteriores colocaram névoas mais densas sobre este acontecimento sem que eu pudesse
dissipá-las. Entretanto, restou-me a impressão de que se tratava de desleal sondagem.


O Presidente da República nunca viu favoravelmente a participação das Forças Armadas no
combate à subversão. Concordava com ele, pois fugia à sua missão precípua e desgastava-as na luta
diária em ações de caráter policial; sujeitava-as a campanhas caluniosas e sorvia da tropa centenas
de militares com flagrante prejuízo para a instrução. Trazia, também, o perigo da deformação de
mentalidade, em particular dos praças e dos oficiais mais jovens, atraídos para rumos diferentes dos
que lhes dita a formação, especificamente, profissional. Discordava, porém, de modo absoluto, que
na conjuntura atual fossem suprimidos os órgãos de segurança, nem sequer reduzidos.


Quem os substituiria? Que organização nacional possuía estrutura e experiência para assumir a
responsabilidade do combate à subversão e à sua irmã gêmea, a corrupção, no confronto com o
movimento comunista, alimentado por recursos internacionais e assentado solidamente em duas
estruturas: uma clandestina e outra ostensiva - aparentemente democrática?


A Polícia Federal, no dizer do próprio Ministro da justiça, não tinha e não tem ainda condições
de arcar com aquela responsabilidade.


Corríamos o risco de perder o controle da situação e dar azo aos marxistas para reiniciarem,
com êxito, suas atividades, através das costumeiras agitações. O Exército deveria, paulatinamente,
transferir os encargos de segurança interna, mas isto exigiria tempo e um planejamento exeqüível.
Fazê-lo, naquele momento, seria uma temeridade, uma precipitação imperdoável.


As pressões para destruir o sistema de segurança interna eram contínuas e fixaram-se na
modificação da Diretriz de Segurança Interna.' Uma primeira tentativa neste sentido já fora feita no
ano anterior, quando tomei conhecimento oficiosamente de um documento que estava sendo - como
sempre - elaborado em absoluto sigilo no Serviço Nacional de Informações, visando a cercear as
atividades dos órgãos de segurança. Entre as inovações sugeridas aparecia uma, contundente à
autoridade do Ministro do Exército e inadmissível, mesmo se concebida de boafé. Propunha-se ali
que, em caso de calamidade pública, todos os comandantes de Exércitos e os comandantes do
Planalto e da Amazônia ficassem, diretamente, subordinados à Presidência da República.


A qualquer ministro de brio repugnaria tal situação. Telefonei imediatamente ao chefe do SNI,
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