Antes de tomar a decisão final de enviar o livro para publicação, o filho teve duas atitudes.
Primeiro, encaminhou requerimento ao comandante do Exército perguntando se os documentos
classificados como sigilosos já podiam ser divulgados. A resposta foi evasiva: dizia que tais
documentos não estavam arquivados no Exército. Em segundo lugar, consultou um advogado amigo
da família, Nelson Pecegueiro do Amaral, que fora consultor jurídico do Ministério do Exército na
gestão de Sylvio Frota. O dr. Pecegueiro do Amaral sugeriu a retirada de algumas palavras, cerca de
uma dezena, que poderiam configurar ofensa pessoal e dar mo tivo para interpelações judiciais.
Todas essas adjetivações foram examinadas, em seu contexto, na editora, e considerou-se que a
supressão não afetou o essencial daquilo que Sylvio Frota quis deixar registrado.
O livro traz informações importantes sobre a vida no Exército desde os anos 20 e sobretudo após a
Segunda Guerra Mundial, e sobre as disputas políticas entre grupos de militares. Longas explicações
sobre detalhes aparentemente bizantinos dos mecanismos de promoção ao generalato evidenciam a
excepcional importância de que o assunto se reveste para os militares. Frota faz uma articulada
reflexão sobre o sentido de 1964 no esteio dos conceitos de golpe, reforma e revolução. Temos
também oportunidade de acompanhar a visão de um oficial-general sobre a dinâmica da repressão
contra os inimigos do regime instaurado em 1964, incluindo conflitos internos ao próprio "sistema de
informações". Sobre a tortura, ao mesmo tempo que diz não autorizar tal prática, Frota lembra que
era difícil controlar o ímpeto de militares que se sentiam agredidos em seu trabalho de combate aos
opositores do regime, explicando-o como uma reação à agressividade de alguns presos.
O leitor encontrará neste livro uma das expressões mais acabadas e extremadas do
anticomunismo no Brasil. O anticomunismo, ao contrário do que muitos podem pensar, não foi uma
questão de fanatismo. Foi parte das políticas de Estado no Brasil desde os anos 30. Do ponto de
vista analítico, articula-se como um sistema de pensamento que historiadores e cientistas sociais
precisam interpretar com mais acuidade. As noções aqui trazidas sobre sociedade, Estado, ordem,
hierarquia, entre outras, ajudam a entender o fenômeno.
O comunismo era visto por Sylvio Frota como uma ameaça constante desde bem antes de 1964.
perigo tornava-se maior e mais grave na medida em que, na visão de Frota, o próprio presidente da
República, Ernesto Geisel, era de esquerda, embora procurasse disfarçar essa preferência. O relato
de momentos em que o matiz ideológico socialista do presidente se teria tornado explícito é
fundamental na construção de evidências que dão sustentação às conclusões de Frota. O fato de
Geisel estar cercado pelo que o autor chama de "grupelho do Planalto" - Golbery e os assessores
mais próximos - acentuava o perigo esquerdizante que a Revolução e o país estariam correndo.
Nesse contexto, o papel do ministro do Exército era visto como fundamental. Para Frota, o
ministro deveria ser, "primordialmente, o representante e defensor de sua Força junto ao presidente
e, secundariamente, um delegado deste na sua instituição'. Um presidente da República