A fabricação de material bélico constituiu, desde os meus tempos de tenente, tema dos mais
interessantes, porém muito controvertido, se não no país, pelo menos no nosso Exército. A
controvérsia residia em definir a quem caberia a produção do material, no Brasil; se ao governo ou a
empresas privadas.
As teses tinham ardorosos defensores e a argumentação desfolhava-se em raciocínios,
beneficiando ora uns, ora outros oponentes, sem que se chegasse a proposta de solução lógica e
prática, adequada ao nosso estágio de desenvolvimento.
As revistas especializadas abordavam o assunto, divulgando apreciações, trazendo sugestões e
alargando a área dos debates.
A visão que tínhamos do problema, no escalão em que vivíamos, era muito superficial e não nos
permitia aquilatar sua extrema complexidade. Julgávamo-lo apenas difícil, mas passível de
superação pelo trabalho e honestidade de propósitos. Saciava-se, contudo, a curiosidade nas
informações sobre tão importante assunto, o que era salutar à nossa formação profissional.
Correram os anos e as soluções possíveis nas diferentes épocas tinham iniludível caráter
paliativo, na espera de melhores tempos. Os governos procuraram, corajosamente, resolver a
questão, lançando-se na criação de fábricas e consentindo se instalassem outras. O incessante
aperfeiçoamento técnico do armamento e a nossa precariedade industrial mostraram a
inexeqüibilidade desta iniciativa em termos de modernização. O material fabricado tornava-se, a
curto prazo, anacrônico e, na maioria das vezes, era obra de artesanato. Escapavam a estas
considerações as fábricas de munição, relativas ao armamento portátil, o qual se conservou em uso,
aproximadamente, por 50 anos. Neste caso, tecnicamente, não houve evolução.
As empresas privadas estrangeiras de grande porte, no setor da indústria bélica, donas de
mercados vantajosos, escorchavam e escorcham seus fregueses, de preferência os subdesenvolvidos.
Empenhavam-se em vender; jamais pensaram em aqui se instalar. As poucas firmas que enveredaram
por este caminho, na esperança de que fosse promissor o comércio de armas, não foram felizes.
Acreditavam na possibilidade de conquistar novos mercados, em especial na América e entre as
nações africanas. Falharam em seus projetos por excesso de otimismo ou por desconhecerem a
estrutura armamentista internacional e o poderio das organizações que, ainda, a compõem,
constituindo, reafirmo, verdadeira máfia, de raízes internacionais, disposta a tudo, empregando
recursos e meios condenáveis para negociar, com êxito, espantosos lucros.
A implantação de fábricas de material bélico, no Brasil, chocava-se, além disso, com uma
imposição governamental que aniquilava, no nascedouro, a ambicionada expansão deste comércio - a
categórica proibição de exportar qualquer material desta espécie.
Os estudiosos do assunto e os batalhadores de nossa independência, neste campo da indústria,
conhecem numerosos exemplos destas tentativas frustradas. Só a vocação suicida poderia aconselhar
investimento na fabricação de armamento cujo mercado estivesse restrito apenas ao país que dava a