A perfeita compreensão das decisões e atitudes de um homem, quando da vivência de acontecimentos
relevantes de sua existência, só pode ser alcançada se forem conhecidos sua personalidade, sua
experiência de vida e os princípios e valores que norteavam seu proceder, bem como os fatores
ambientais e conjunturais da época em que viveu, que influíram sobre aqueles eventos.
Assim, visando a proporcionar ao leitor melhores subsídios para a análise, que certamente fará,
dos escritos de meu pai neste livro, procurarei traçar, nestas breves linhas introdutórias, um singelo
esboço de seu perfil - mente e alma - e relembrar as principais características do período em que se
inserem os fatos neles narrados e comentados.
Falar sobre meu pai é, para mim, ao mesmo tempo, fácil e difícil. Fácil porque,
indubitavelmente, nenhum homem o conheceu melhor que eu; difícil porque devo fazê-lo com isenção
de ânimo, abstraindo-me da enorme admiração que tenho por seu vulto. Tentarei consegui-lo.
Meu pai nasceu na cidade do Rio de janeiro, em 26 de agosto de 1910. Cresceu no seio de uma
família típica da classe média-pobre da época, cujas dificuldades decorrentes dos parcos recursos
financeiros deixaramlhe marcas nas memórias da infância e na personalidade.
Recebeu formação cristã, numa família extremamente católica, cujos ensinamentos espirituais
seguiu por toda a vida.
Cedo demonstrou vocação para a carreira militar, apesar de não haver na família quem a tivesse
seguido antes dele. Contavam meus avós que, se perguntado, quando menino, sobre o que desejaria
ser quando crescesse, respondia prontamente:" Quero ser general." E o foi, meio século depois.
Pelo que sei, a cobrança por resultados escolares nunca foi muito forte na família. No entanto,
meu pai demonstrou desde cedo um gosto desenvolvido pelos estudos, o que lhe proporcionou,
preparando-se quase sozinho, o ingresso no Colégio Pedro II, o mais conceituado do país na época,
onde logrou concluir o curso secundário.
Desta forma, chegou à Escola Militar do Realengo, onde ingressou no seu Curso Anexo, espécie
de curso preliminar, em março de 1928. E, em dezembro de 1932, formou-se oficial do Exército
Brasileiro, seu grande sonho de então.
O Exército foi, juntamente com a família, sua grande paixão. A ele dedicou o melhor de si, ao
longo de toda sua carreira. Fê-lo por gosto e por considerar esta a maneira correta de proceder.
Dizia que a carreira militar era como um sacerdócio, só devendo ser seguida por vocação.
Foi um militar disciplinado e disciplinador. Se, por um lado, preocupava-se em apoiar seus
subordinados em suas dificuldades pessoais, familiares ou sociais, por outro era intransigente em
questões morais, disciplinares ou de aplicação ao serviço. Esta última característica angariou-lhe a