imagem de homem público. Vinha assim, de origem insuspeita, a confirmação da normalidade de um
procedimento estranho.
Retornando ao meu gabinete, sob aparente ansiedade dos generais, fiz-lhes um relato minucioso
do que se passara no palácio presidencial. Não lhes disse, porém, nada sobre as palavras e frases
atentatórias à moralidade ali proferidas. Considerava-me um ministro leal ao presidente Geisel e,
embora muito chocado com a maneira descabida do presidente e discordando de sua decisão, tinha o
dever moral de preservar-lhe a imagem; o caminho certo era afastar-me e trazia comigo, após a
recusa e a cena palacianas, este intuito.
Terminada a exposição - feita com toda a serenidade - dirigi-me aos meus colegas nos seguintes
termos:
- Vocês me deram uma missão; todos estávamos certos de que era solução única e digna. Eu não
a cumpri, logo, eu não tenho mais condições morais de ser Ministro do Exército! Vou-me embora!
Houve, como se pode imaginar, uma saraivada de protestos contra o meu propósito; não era
admissível, disseram, deixar o cargo por um motivo daquela natureza; o ministro não tinha razão; o
presidente era o comandante supremo das Forças Armadas, podia tomar aquela decisão.
Não tendo interesse em debater um problema já resolvido, dei por finda a reunião e retirei-me.
Informei ao meu chefe-de-gabinete - general-de-brigada Bento José Bandeira de Mello - que iria
retirar-me e tinha a intenção de não mais voltar, recomendando-lhe fizesse uma limpeza em minhas
gavetas.
Na tranqüilidade do lar, voltei a analisar os acontecimentos, a especular suas causas e meditar
nos rumos que poderiam tomar.
Não estava em jogo, para mim, a autoridade do Presidente da República, tampouco sua decisão
ou condição de comandante supremo das Forças Armadas, que nós próprios sustentaríamos e
preservaríamos, sendo eu, como ministro, o primeiro a mantê-la. O que estava em jogo, isto sim, era
a honra de nossa instituição, ferida num ataque solerte, sob imunidades parlamentares. Aceitar uma
retratação e proibir, ao mesmo tempo, a divulgação do aparte insultuoso eram, logicamente, medidas
incoerentes, vazias de eficiência. Dar o dito como não dito, enfim, desdizer-se - prova de absoluta
leviandade e fragilidade moral -, não seria difícil a quem usou destas leviandade e fragilidade em
injúrias ao Exército de sua Pátria.
A retratação, admitida como pena máxima, em nada prejudicaria o agressor, o qual continuaria
em pleno gozo de seus direitos, locupletando-se nas vantagens de sua posição. Poderia até alegar que
estava sendo coagido a retratar-se pela força de um governo ditatorial. Tinha, além de tudo, a
retratação um aspecto curioso; não poderia ser feita sem referência ao aparte. A alusão ao aparte
aguçaria a curiosidade popular e incitaria a busca, pelos homens de imprensa, de seu texto para
publicá-lo. As infâmias e as outras falsidades - contidas no aparte Leite Chaves - já tinham sido