fama de homem severo e "duro"; que se difundiu por todo o Exército. Contudo, era ainda mais
rigoroso consigo, pois achava que a imagem do chefe tem que servir de exemplo e modelo para seus
comandados.
Muitos dos homens que com ele serviram - oficiais e praças - devotavam-lhe grande admiração,
respeito e amizade, que continuaram a manifestar, mesmo após seu afastamento do serviço ativo,
procurando-o sempre.
Meu pai preferia servir nas unidades de tropa, preferencialmente nas de sua arma, a Cavalaria,
ou nos estados-maiores. Fez todos os cursos significativos para sua carreira e ocupou alguns dos
cargos mais importantes do Exército, embora nunca tivesse postulado qualquer um deles.
Era naturalmente dotado dos requisitos básicos de uma liderança - era admirado, querido e
temido - que com o tempo passou a exercer sobre uma parcela cada vez maior do Exército, sobretudo
à medida que este se envolvia nos grandes problemas nacionais e que homens com posições firmes e
definidas, como ele, eram requeridos à frente da instituição. Por isso, por sua brilhante carreira, por
seu grande e crescente prestígio na tropa e, também, por uma fatalidade, acabou sendo alçado ao
mais alto cargo da Força: o de Ministro do Exército. Nele viveu alguns dos acontecimentos mais
importantes da vida nacional àquela época, cuja descrição constitui a maior parte deste livro.
No que se refere à nossa família, guardo dele a imagem de um pai carinhoso, atencioso e sempre
pronto a nos apoiar em nossas dificuldades, procurando ajudarnos por meio do diálogo, mais voltado
para a orientação do que para a imposição. Contudo, era rigoroso quando da cobrança da aplicação
aos estudos e do cumprimento dos preceitos morais que nos ensinou.
Meu pai era um homem de hábitos simples. Não gostava de viagens, festas e reuniões sociais
concorridas. Preferia ir ao cinema ou ao futebol e passear a pé, normalmente pelo Grajaú, bairro em
que residiu a maior parte de sua vida.
Seu grande lazer era a leitura. Seus livros prediletos eram os de história, ciência cujo estudo foi
outra de suas paixões. Gostava, também, da leitura de alguns filósofos e de escritores clássicos como
Victor Hugo, Alexandre Dumas, Paulo Setúbal, Michel Zevaco etc... Podia ler, com alguma
facilidade, em espanhol e em francês, mas nada sabia da língua inglesa.
A história, todavia, era a sua grande preferida. Não só a lia como a estudava, escrevendo
sínteses dos diversos fatos históricos que pesquisava. De sua considerável biblioteca, que contava
com cerca de dois mil volumes quando de sua morte, mais de dois terços eram de livros de história.
Provavelmente, do estudo desta ciência adquiriu o costume de registrar os principais acontecimentos
que vivia, guardando documentos a eles atinentes, muitos dos quais serviram de subsídios para a
redação deste livro.
Dizia que, quando o Exército o dispensasse, iria ser professor de história e de matemática, outra
ciência que estudava e dominava bem. A idade, a saúde e a posição em que deixou o Exército,