IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

contudo, não lhe permitiram isso.


Meu pai tinha um temperamento extrovertido e era socialmente bastante afável, conquistando
com facilidade a simpatia da maioria das pessoas que conhecia. Contudo, seus costumes e conduta
pessoal eram bem conservadores, pautando seu comportamento por princípios morais rígidos que,
em sua escala de valores, ocupavam o mais elevado grau de importância.


Classificava os homens pela firmeza e beleza de caráter, independentemente de outros atributos
que tivessem.


Possuía, no dizer dos que com ele conviveram em diversas situações, uma personalidade forte,
não se importando muito com a opinião que outros viessem a ter de seus atos. Preocupava-se somente
com a correção dos mesmos, segundo seus princípios.


Considerava o plano espiritual superior ao material e colocava sempre os ideais à frente dos
interesses. Admirava os idealistas, mesmo que de posições opostas às suas, e desprezava os
interesseiros e oportunistas.


Era um idealista. Orientava sua carreira e sua vida no sentido da realização de seus ideais,
desenvolvidos desde jovem e voltados, em sua maioria, para a grandeza do Exército e do Brasil. Sob
esse aspecto, identificava-se com a geração de militares deflagradora dos movimentos
revolucionários que, de 1922 a 1930, sacudiram o país e cujos ecos continuavam ressoando em todo
o Exército quando nele ingressou.


O desprendimento patriótico dos heróis imortalizados no episódio dos Dezoito do Forte de
Copacabana emoldurou seus ideais de jovem oficial e influiu sobremaneira em seu comportamento
ante as graves questões nacionais que viria a vivenciar. A famosa frase do capitão Siqueira Campos,
"À Pátria tudo se deve dar e nada pedir, nem mesmo compreensão", era um de seus paradigmas.


Achava que o pensamento do Exército era um espelho das aspirações de nosso povo e que sua
intervenção na vida política do país, quando as grandes causas nacionais encontravam-se ameaçadas
por maus governantes, era válida e necessária. Assim, apoiou os movimentos militares de 1930,
1945, 1954 e, por fim, o de 1964. Não aceitava, porém, que os militares se imiscuíssem na política
partidária ou que a levassem para dentro dos quartéis.


Seu pensamento político evoluiu através do tempo de acordo com as diversas conjunturas da
vida nacional: como tenente foi admirador de Getúlio Vargas, que pensava identificado com os seus
ideais e os de sua geração de oficiais; após o Estado Novo, desencantou-se com ele e, em 1945,
apoiou sua deposição; quando de seu retorno em 1950, abraçado às esquerdas, começou a
aproximar-se dos que se lhe opunham, como Carlos Lacerda; integrou-se à corrente oposicionista aos
governos de Juscelino Kubitschek e João Goulart e, quando no deste último viu crescer a ameaça
comunista contra as instituições democráticas do país, passou a conspirar e participou do
desencadeamento do Movimento Militar de 31 de março de 1964.

Free download pdf