Esta atitude irritava os interrogadores e provocava reações imprevisíveis que deviam ser
evitadas, de qualquer modo, porque a pessoa do prisioneiro é, para mim, sagrada.
Este foi um dos mais nobres ensinamentos que recebi na antiga e saudosa Escola Militar do
Realengo.
Visando a sanar tal obstáculo, ao exercer o comando do 1 Exército, proibi que os militares
encarregados das ações externas realizassem inquirições, reservando-as, com excelentes resultados,
a grupos de oficiais para isto selecionados pelo Centro de Estudos de Pessoal do Exército.
Sendo básico o princípio de que toda informação deve ser obtida em tempo útil, surge, nas
situações gravíssimas - ameaças latentes ao regime, à ordem pública ou à vida de cidadãos - a
necessidade imediata da informação. Passam, então, os homens do sistema, por angustiosos
momentos. Os escalões superiores pressionam, incessantemente, os agentes de busca e os
interrogadores, os mais atormentados e instados a praticar milagres, sem possuírem atributos de
divindade.
Nas oportunidades de seqüestro, em que se aprisiona um dos participantes do crime e são
estabelecidas condições pelos terroristas, sob ameaça de matar o seqüestrado, a ansiedade atinge a
níveis indescritíveis.
Especulando sobre o assunto, julgo a propósito indagar se alguém já meditou sobre o drama que
vivem os oficiais incumbidos do interrogatório do terrorista preso? Se alguém, ao menos, o
percebeu?
Estarão em confronto, de um lado, a sua formação militar, assentada no respeito à dignidade da
pessoa humana, e, de outro, a necessidade premente de usar de todos os recursos para obter a
informação, a tempo de evitar a morte de um inocente.
É preciso não olvidar nesta apreciação a influência do ambiente que os cerca, carregado de
emotividade, capaz de deprimi-los ou excitá-los consoante suas predisposições psíquicas.
Nesses momentos de aflição, quando as circunstâncias dos acontecimentos, desfiguradas pelas
emoções, ditam comportamentos, é preciso que o equilíbrio e o tirocínio dos chefes estejam
presentes para impedir atitudes e decisões precipitadas e inadequadas.
É doloroso, no entanto, admitir que muito da responsabilidade por fatos desagradáveis
verificados - conquanto esporadicamente - cabe aos chefes que se engolfaram em suas poltronas, no
gozo de suas prerrogativas, comandando por delegação, esquecendo-se de transmitir aos seus
subordinados a experiência e de comedir o entusiasmo de suas ações, até certo ponto natural nos
jovens. Numa fase como a que atravessávamos, de luta crucial contra a subversão, a presença do
chefe junto aos comandados era imprescindível, pois levar-lhes-ia incentivo e, também, a sensação
do controle.