IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

grande estado e seu amigo.


Quem teria levado essas informações ao presidente?

Acresce a circunstância de o general D'Ávila Mello ter sido nomeado no governo Médici, não
sendo, portanto, da escolha do presidente Geisel para aquele cargo.


Procurava-se armar, em São Paulo, um dispositivo militar destinado a dar sustentação a um
esquema político, naquela época, em gestação. Com o passar do tempo, informes e posteriores
informações - cautelosas e esparsas - iam lentamente confirmando o que antes era apenas suposição.
As antigas relações de amizade do então Chefe do SNI com o ex-governador Laudo Natel e as
ligações constantes que mantinham levantavam um tapume pouco consistente para conter as
insinuações e indícios de articulações políticas, com ambiciosas vistas à Presidência da República.


Eu era, como muitos, um dos iludidos com a sinceridade do presidente Geisel e acreditava que
esses supostos entendimentos políticos fossem realizados sem o seu conhecimento. O general
D'Ávila Mello iria, assim, enfrentar sérias dificuldades nos setores da subversão e político; contudo,
maiores aborrecimentos lhe seriam impostos pelo comportamento de alguns de seus subordinados,
cuja lealdade não corresponderia à confiança que neles depositava um chefe íntegro e bom.


O segundo-tenente reformado Ferreira de Almeida, da Polícia Militar do Estado de São Paulo,
estava preso nas dependências do DOI do II Exército por participar de atividades comunistas,
comprovadas em inquérito regular. No dia 8 de agosto de 1975, suicidou-se por enforcamento, na
prisão daquele órgão de segurança. Tomei conhecimento do suicídio através do Centro de
Informações do Exército, horas depois de conhecida a morte pelas autoridades daquele Exército, que
determinaram a abertura imediata de inquérito para apurar as causas e condições do triste fato.


Dias depois desta ocorrência, chegou-me a informação de que um tenentecoronel da mesma
corporação tinha sido insultado e agredido a socos durante um interrogatório realizado também
naquele destacamento, o que provocara reação entre os oficiais da Polícia Militar de São Paulo.


Na primeira oportunidade, chamei à minha residência, em Brasília, o general Comandante do II
Exército que, recordo-me bem, se fez acompanhar de seu assistente, o tenente-coronel de Cavalaria
Horus Azambuja. Conversamos, a sós, na sala, enquanto o assistente aguardava, passeando ao longo
da varanda residencial, em companhia de meu ajudante-de-ordens.


Estimava o general D'Ávila Mello, não somente pelas suas qualidades de soldado, provadas na
luta da península itálica, como pelo apoio leal que dava à minha administração. Homem de caráter e,
por isso mesmo, confiante no caráter alheio, delegou missões sem exercer, no entanto, sobre seus
delegados, adequada e eficiente fiscalização. Seu feitio tolerante com os oficiais, subordinados
imediatos, traduzia mais a compreensão com as falhas humanas do que o desapreço pela disciplina
ou falta de exação no exercício de seu cargo.

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