Esse militar, entusiasta de sua profissão, apologista dos postulados democráticos e
revolucionários, foi, entretanto, sorvido na voracidade dos acontecimentos de uma época de traições
e agitações sociais. Tentaram, com algum resultado, os marxistas e os que apenas possuem coragem
coletiva, por quanto só atacam em grupos, denegrir seu comportamento e caricaturá-lo de torturador.
Sua infelicidade foi viver um período da história de nossa Pátria em que se tropeça, a cada passo, em
sorridentes sabujos, lidando-se com homens que dizem o que não pensam e fazem o que não dizem
nem pensam - legenda universal dos desfibrados morais.
Iniciei a minha conversa com o D'Ávila Mello lançando-lhe a pergunta:
- Eduardo, você está contra mim?
Espantou-se o general e respondeu:
- O que é isso Frota? Por que eu iria estar contra você?
Continuei o diálogo:
- Você discorda de minhas ordens?
- Não, Frota, estou de pleno acordo com elas.
Expliquei-lhe, então, o que soubera a respeito do interrogatório do tenentecoronel Silvestre, da
Polícia Militar de São Paulo, e acrescentei:
- Não é possível, Eduardo, que isso aconteça! Você deve tomar enérgicas providências. É
preciso mudar, logo, alguns dos oficiais que trabalham no DOI; substituí-los, porque estão ocorrendo
exageros que não podemos admitir. Faremos a substituição por partes para não prejudicar o serviço.
Você poderá indicar, escolher, em todo o Exército, os homens que desejar e os nomearei em 24
horas.
O general D'Ávila Mello reconheceu que houvera algum exagero no interrogatório do tenente-
coronel e declarou já ter tomado medidas para evitar se repetissem tais procedimentos
injustificáveis. Relutou, todavia, em trocar os oficiais que considerava muito bons e conhecedores do
ambiente.
Insisti nas indicações de nomes e o D'Ávila Mello, finalmente, aquiesceu em enviá-las.
A palestra alongou-se. Recordei-lhe minha maneira de agir no 1 Exército - o que constantemente
fazia aos comandantes de áreas -, visto que obtivera ótimos resultados. A fiscalização deveria ser
severa e direta. As visitas inopinadas, a quaisquer horas do dia ou da noite, sem solução de
continuidade. Falei-lhe sobre a necessidade de colocar, junto ao subversivo detido, um homem
nosso, para evitar atos de desespero. Teria, além disto, a vantagem de ouvir suas lamúrias nos
momentos de depressão. Recomendei-lhe que não tivesse consideração com os desobedientes das