IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

normas baixadas e punisse-os com rigor. Encerrei o diálogo mostrando que todo homem transferido
preso, de um órgão de segurança para outro, deveria, sistematicamente, ser examinado por um
médico, a fim de precisar a origem de qualquer lesão física por acaso encontrada.


O general D'Ávila Mello estava, como já tinha manifestado, de absoluto acordo com minhas
recomendações e aceitava-as como lógicas e eficientes. Disse-me que daria a máxima atenção ao
assunto.


Aconselhei-o, ainda, à despedida:

-Visite o DOI, Ednardo! Não deixe de fazê-lo sempre.

Passou-se pouco mais de um mês, e estoura a crise provocada pela morte do jornalista Wladimir
Herzog, considerado marxista pelos órgãos de informações. Suicidara-se, nas dependências do DOI
do II Exército, depois de interrogatório a que fora submetido, como colaborador nas atividades das
gráficas clandestinas do Partido Comunista Brasileiro.


O fato, pela coincidência de local, forma da morte e, particularmente, pelas condições
profissionais do suicida, provocou grande reação da imprensa, seguida de intenso alarido em todos
os setores da vida pública brasileira. O clero e os políticos integraram-se com destaque nessa
campanha, procurando conquistar ou consolidar prestígio, como defensores intransigentes dos
direitos humanos, nas insinuações de assassínio perpetrado pelos homens do serviço de repressão.


Já abordei a morte do jornalista Herzog quando tratei do caso Leite Chaves, e naquela
oportunidade teci considerações a respeito do acontecimento. Havia, em tudo, o propósito de jogar a
opinião pública contra os órgãos de segurança, incriminando-os de ninhos de irresponsáveis e
sádicos torturadores, para forçar o governo a dissolvê-los ou, no mínimo, restringir-lhes as
atividades.


Feito o inquérito e comprovado o suicídio, empenharam-se os elementos de esquerda em
contestá-lo, conseguindo interessar nesta tentativa pessoas idôneas. Usaram os jornais para aumentar
o alarido em torno do evento e publicaram um novo depoimento do jornalista Rodolfo Oswaldo
Konder, realizado em escritório particular, com testemunhas escolhidas, alegando o anterior ter sido
prestado sob coação. Apesar dos artifícios que empregaram neste sentido, nada conseguiram. O
relatório do general encarregado do IPM e os depoimentos das testemunhas foram transcritos no
jornal do Brasil de 20 de dezembro de 1977, para conhecimento público.


Esta ocorrência trouxe-me sérias contrariedades. Estava havendo alguma coisa no II Exército que
precisava ser urgente e convenientemente explicada. Não podia compreender que, com as rigorosas
ordens existentes, tais fatos acontecessem.


Conhecia profundamente o sistema de informações e repressão, de seus subterrâneos - onde se é
obrigado a transitar de botas para evitar o contato da lama - aos luxuosos salões, palco preferido dos

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