para tentarem justificar perante o Exército sua injustificável atitude.
O título que escolheu para a obra - Ideais traídos - reflete sua convicção de que os ideais que ele
e várias gerações de militares agasalharam em seus corações e mentes, desde 1922, ao longo de
algumas décadas e a despeito de diversas frustrações, tiveram sua melhor oportunidade de
concretizar-se com a Revolução de 31 de março de 1964. Contudo, foram traídos por um grupo
encastoado no poder desde março de 1974, de falsos revolucionários e aproveitadores, que, tendo
recebido delegação daqueles verdadeiros idealistas para realizá-los, seguiu em caminho oposto ao
esperado, destruindo a Revolução e enterrando com ela todas as perspectivas e esperanças de
atingir-se, num tempo aceitável, aqueles ideais que visavam a arrancar o Brasil do
subdesenvolvimento e alçá-lo a uma posição de relevo no mundo, mercê de suas enormes
potencialidades.
Após deixar o cargo de ministro, limitava-se a comentar os acontecimentos aqui narrados
somente com as pessoas amigas que, conhecendo-o bem, sabiam da veracidade de seus relatos.
Quanto às críticas e comentários adversos às suas atitudes, que freqüentemente surgiam na mídia,
pouca ou nenhuma importância parecia lhes dar. Nunca demonstrou qualquer arrependimento de suas
ações e decisões por ocasião daqueles eventos e, ao que tudo indicava, estava em paz com a sua
consciência. Tinha a satisfação do dever cumprido para com o Brasil e, como um seu herói do
passado, não pedia nenhum reconhecimento, nem mesmo compreensão.
À medida que o governo Figueiredo afundava, arrastando consigo a memória da Revolução de
31 de março e propiciando a seus detratores os meios de denegri-la, passou a alhear-se dos assuntos
políticos nacionais, afastando-se definitivamente da vida pública.
Ao morrer, em 23 de outubro de 1996, deixou, com os que conheciam a existência desta obra,
uma interrogação por responder: por que não a publicou em vida?
A resposta a tal questão encontra-se nas peculiaridades de seu caráter.
Amante da história, sabia da importância para esta da revelação da verdade sobre os
acontecimentos que vivera. Devotado ao Exército, sabia das conseqüências negativas para a
instituição da divulgação daqueles eventos, sobretudo da atitude de muitos de seus mais altos chefes
de então. Como ex-comandante do Exército, não queria concorrer para que a imagem do chefe militar
fosse maculada perante a sua Força.
Aqueles acontecimentos, principalmente os de outubro de 1977, constituíamse, no seu dizer,
numa negra página da história do Exército Brasileiro, e por isso seu espírito de soldado, dedicado à
instituição, relutava em explicitá-los ao público, mormente àqueles que deles se aproveitariam para
atacá-la.
Dessa forma, pensando basicamente em preservar o seu Exército, mesmo que com o sacrifício da
verdade histórica e, com ela, de sua reputação pessoal, protelou a publicação do livro para uma