outros oficiais - dois ou três - contra os quais havia indícios de ligações diretas com o Gabinete
Civil da Presidência da República, ao qual adiantavam informações e do qual aceitavam insinuações
sobre questões em exame; tudo, note-se bem, extra linha hierárquica.
Não me surpreenderam esses entendimentos diretos com aquele setor da Presidência. Todos,
embora não pudessem provar a existência de uma linha paralela de informações dirigidas pelo
ministro Chefe do Gabinete Civil, sabiam-na existente.
Em São Paulo, por pedidos reservados das autoridades militares, fui forçado a afastar, de um
dos Estados-Maiores do II Exército, um oficial que evidentemente mantinha esses contatos.
O próprio atual ministro do Exército,' no tempo em que éramos amigos - amizade que persistiu
por 40 anos - citando-me os motivos de sua saída do SNI, quando ali servira sob a direção do
general Golbery do Couto e Silva, colocou como principal deles a importância que este general dava
às informações colhidas por sua rede particular, sobrepondo-as às de caráter oficial, criando deste
modo campo propício a divergências.
O Inquérito Policial Militar foi procedido pelo coronel Murillo Fernando Alexander, que agiu
com extremo rigor. Partiu, segundo todas as informações que me foram dadas, da premissa da
existência de crime e sobre ela desenvolveu as investigações. Consta que levou as minúcias a ponto
de não aceitar a tese do suicídio nas condições apresentadas. Tentou, na reconstituição do fato, ele
próprio, ocupar o lugar do suicida, o que lhe ia sendo fatal.
O relatório concluiu pela comprovação do suicídio do operário Manoel Fiel Filho.
CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS
Estou escrevendo sobre acontecimentos que vivi com o único objetivo de impedir sejam deturpados
na História e que o juízo da posteridade venha a assentar-se em versões forjadas na bigorna da
impostura pelo malho das conveniências pessoais.
Cito-os sem ferir-lhes a veracidade e comento-os, se a clareza o exige, firmando-me nos
princípios morais que nortearam minha vida. Se algo ocorreu diferente do que narrei, dele não tive
conhecimento, quer direta quer indiretamente. Não fugi à responsabilidade do que disse ou fiz,
porque jamais desobedeci à minha consciência.
Não vejo, por isso, na Ética, razões robustas para amordaçar a História. Se a Ética busca o
comportamento ideal, como poderia ser ideal um procedimento falso que disfarça a verdade com
base em preceitos éticos? Isto seria a mistificação dos fatos históricos, infelizmente encontradiça
com mais freqüência do que se pode admitir, porém por influência de fatores políticos e econômicos.
Não é lógico, portanto, nesse choque da Ética com a Verdade, abandonar esta última em respeito
à primeira. Por bani-la dos acontecimentos, cometeram-se injustiças, transmutando demônios em