verificada noutro Exército, pouco depois da exoneração do general D'Ávila Mello.
Fato gravíssimo -bastante delicado, porque implicava alto chefe militar, considerado amigo
íntimo do general Ernesto Geisel - chegou ao meu conhecimento na época indicada. Imediatamente,
em audiência especial que solicitei ao presidente, fiz-lhe minuciosa exposição do problema, cuja
solução fugia a minha alçada.
Não gostou, mas o seu sentimento humanitário foi facilmente submergido pela amizade.
Recomendações paliativas traduziram a sua decisão. Estava encerrada a audiência.
- Ao assumir a responsabilidade destes fatos perante o Exército, colocando-me entre o presidente e
a reação - muito forte aliás - dos que viam na atitude do general Geisel somente desígnios políticos e
a idéia de avassalar o Exército, num primeiro lance, para extinguir depois o sistema de repressão,
estava convencido de que o presidente procedia lealmente e que seus propósitos eram, realmente,
bastante altruísticos. Defendi-o, por isso, com firmeza. As distorções dos acontecimentos, porém,
mostraram-me como um ministro tolerante em relação ao descrédito do Exército; e as intrigas
palacianas como um conspirador frustrado. Estas últimas parecem ter constituído uma neurose dos
homens do Planalto, repetida mor bidamente, em todas as crises. Quanto às primeiras - as imputações
- o tempo mostrou quem melhor zelava e zelou pela dignidade e prestígio do Exército, indo até o
choque com o Presidente da República para impedir fosse equiparado a uma guarda pretoriana.
Não tenho arrependimento de meu proceder: fiz o que devia por julgar o melhor que podia fazer.
O grande beneficiário de tudo isto, o homem que exigia lealdade, mas não a retribuía, por quem
abalei meu prestígio no Exército, foi o presidente Ernesto Geisel, que pode, hoje, se ufanar de ter
sido o único Presidente da República Federativa do Brasil que, degradando a sua autoridade,
confabulou e conspirou com os generais para demitir o seu Ministro do Exército.
- A maior vítima destes tristes acontecimentos foi, todavia, o general-de-exército Eduardo D'Ávila
Mello, que, pela retidão de caráter e por não encarar com malícia o procedimento alheio, medindo-o
pelos seus rígidos parâmetros morais, arcou com a responsabilidade geral. Não hesito em dizer que
foi ele iludido por comandados que abusaram de sua confiança, como acredito que, se o rigor da
fiscalização fosse efetivo, nada de anormal teria acontecido.
Em tudo há um limite: a paciência que não se esgota transforma-se em subserviência e a
confiança infinita converte-se em relaxamento.
O general D'Ávila Mello, cuja integridade moral e formação cristã afiançam a repulsa à
violência, é um homem de boa-fé. E se a fé, no adágio popular, remove montanhas, a experiência da
vida demonstra que a boa-fé, quando ilimitada, conduz ao precipício, em particular, se convive com
a má-fé.
Ao saber que, a 15 de março de 1979,'2 fora a Brasília prestigiar os homens que, de um modo ou