regulamentos o exigiam. Os fatos jorraram de fontes puras que sustentavam serem eles delituosos.
Não revelá-los a quem de direito ia além da omissão. Era trair a Revolução e pactuar com o crime.
O adido fez o que devia, mas talvez fizesse mal, num mundo dominado por interesses vis. Contudo,
cumpriu seu dever funcional e, o que julgo de vital importância, tranqüilizou sua consciência de
soldado. Demonstrou firmeza de caráter e merecia elogios por não ter se atemorizado.
O Chefe do Estado-Maior do Exército também fez o que devia.
Li e reli os documentos; então, borbulharam-me na mente judiciosas especulações. O Movimento
de março de 1964 trouxera entre os seus mais caros objetivos o de sanear moralmente a Nação. Isto
significava que esta deveria ser tratada, energicamente, das pertinazes enfermidades que,
infeccionando a alma de um povo, deformam-lhe o caráter e aviltam-lhe os costumes. A corrupção -
em suas numerosas modalidades - constitui o mais temido desses males, porque insidioso, é de
difíceis diagnóstico e comprovação. A terapêutica aconselhável à cura não pode, pois, ser
homeopática e branda, senão alopata e mediata.
Aos revolucionários, portanto, não bastava colimar aquele objetivo, tornava-se imperativo
atingi-lo. Em caso contrário, desmoralizar-se-iam.
Assim, no panorama revolucionário, no quadro da nova ordem que há 12 anos vínhamos
implantando, os dados do problema colhidos pelo adido deveriam ser equacionados com serenidade,
mas sem perda de dignidade, visando a uma solução definitiva.
Não cabia, no entanto, ao ministro dar esta solução, porque se coubesse eu a teria dado. O
assunto pendia de decisão governamental, por ultrapassar os limites da jurisdição militar.
Decidi, por conseguinte, enviar cópia dos documentos ao general-de-divisão Chefe do Serviço
Nacional de Informações' e encarreguei desta delicada missão um homem de notória e comprovada
honradez - o general-de-brigada Chefe do Centro de Informações do Exército. Fiz-lhe a
recomendação especial de entregar pessoalmente ao Chefe do SNI cópias dos documentos3 e dizer-
lhe que eu achava gravíssimas aquelas revelações.
Julgava, naquela ocasião, que, entre as primeiras providências a tomar, estaria a de convocar o
autor da comunicação, para melhores e mais minuciosos esclarecimentos.
Ninguém vacilaria, pelo texto, em imputar à autoridade diplomática um comportamento de
duvidosa honestidade. Este juízo só poderia ser desfeito mediante rigorosas investigações. Todavia,
o homem-chave deste asqueroso evento estava na linha de subordinação do Exército e seu
comparecimento para prestar declarações dependia de determinação ministerial.
Aguardava, conseqüentemente, que a vinda do adido fosse solicitada. Procurando, por isso,
cooperar com o SNI, chamei na manhã seguinte o Chefe do CIE e ordenei-lhe que entrasse em ligação
com aquele Serviço, indagando se desejava algo em relação ao caso comunicado na véspera.