revolução chilena, porquanto como coronel de infantaria participou do cerco e ataque ao palácio de
La Moneda.
Estava presente, também, o nosso embaixador Expedito Resende, eminente vulto do Itamaraty, a
cuja inteligência e dedicação ficamos - todos nós - devendo o bom êxito de nossa missão.
A passagem pelo Chile, no período pós-revolucionário, foi uma experiência de férteis
resultados, pois permitiu interessantes observações quanto às idéias dominantes no país, quer do
ponto de vista político quer do militar.
Do longo e extenuante programa a que estávamos jugulados, sobrou-nos, entretanto, algum tempo
para sentir as reações populares e as opiniões militares sobre a situação, não só chilena, como ainda
americana e mundial.
Com o objetivo de definir este pensamento, saltitarei pelos pontos principais de nossa estada na
pátria de O'Higgins, visto que seria maçante agir de outro modo.
Já que aludi ao nome do libertador do Chile, devo dizer que um de nossos primeiros atos oficiais
foi o de colocar, na estátua de Bernardo O'Higgins, uma corbeille de flores, na homenagem singela
do Exército Brasileiro.
A multidão aglomerada na Plaza Bulnes brindou com vibrante salva de palmas a delegação
brasileira, numa inconfundível manifestação de simpatia e destaque ao Brasil.
Estávamos diante do monumento do homem que, vencedor na batalha de Maipú, onde lutara
ferido e com febre, preferira abandonar o mando a dividir a Nação chilena, e fora morrer exilado no
Peru.
O Exército Brasileiro tributava-lhe, por isso, um preito de admiração e respeito.
A ingratidão dos contemporâneos não traz a marca da nacionalidade nem a dos séculos. O povo
também se cansa de seus heróis vivos, disse um dia, há milênios, um rústico camponês grego ao
grande ateniense Aristides, lançado ao ostracismo pelas intrigas políticas de Temístocles - como o
foram San Martin e O'Higgins pelas de seus compatriotas. Entretanto, paradoxalmente, não se fatiga
de comemorar os seus feitos.
Na suntuosa catedral de Santiago assistimos, num sábado frio, a um te deum de caráter
ecumênico. A temperatura das pregações e cânticos, contudo, não correspondia à do meio ambiente.
Os representantes das religiões participantes da cerimônia, com exceção do arcebispo de Santiago -
cardeal Raul Silva Henríquez -, foram comedidos em suas prédicas e referências à revolução
chilena, comportamento aconselhável e digno num templo. Todavia, o ilustre prelado católico
acutilou com termos agressivos o governo chileno, beirando o descontrole, quando disse que a
revolução fora necessária, mas que não se podia substituir a violência por outra violência.