Presentes todas as delegações estrangeiras e a junta do Governo, uma sensação de mal-estar
dominou a assistência. Os membros da Junta, no entanto, mantiveram-se serenos; deles apenas o
almirante José Toríbio Merino de Castro com dificuldade conteve sua revolta, o que foi evidente
pela intranqüilidade das mudanças de posição.
No dia seguinte, um almoço restrito aos representantes do Brasil, Argentina e Espanha foi
oferecido pela junta, compartilhando da reunião, também, o Ministro da Defesa. A refeição
transcorria com muita cordialidade, mantida a palestra no terreno dos assuntos vulgares, quando o
almirante Merino, não podendo suster os impulsos de seu temperamento, abordou passagens do te
deum da véspera, lamentando que a religião de Cristo, que sempre se assentara numa ética de
respeito à verdade e tolerância nos julgamentos, viesse a público, pela palavra de um de seus
maiores dignitários, dar guarida a calúnias disseminadas pelos marxistas.
Evoluiu a conversa para a urgência, que se impunha, de uma melhor compreensão dos governos
na luta contra o comunismo. Destilavam-se nas populações mentiras e instigavam-nas contra as
autoridades. Serviam-se para isso os marxistas dos conhecidos inocentes úteis.
Em face do crescente domínio do litoral ocidental da África pelos soviéticos, surgira, aventada
pelos norte-americanos, a idéia de um tratado de defesa para o Atlântico Sul, à semelhança do que já
existia para o Atlântico Norte. Opinava o almirante Merino - com muita razão, aliás - que um
documento desta espécie iria criar dificuldades, justamente, em relação a países da margem oriental
do Atlântico Sul, por ele também banhados, que se encontravam sob flagrante influência soviética.
Isto seria um disparate, se não fosse uma decisão estúpida.
Concordei, integralmente, com o raciocínio expendido.
Não deixaria de agradar aos russos um tratado que lhes desse motivos para concentrar sua
esquadra na baía de Conacry - República da Guiné -, base que usaram para apoiar os comunistas de
Angola, ou mesmo em Luanda.
Prosseguindo em suas considerações, disse o almirante julgar mais conveniente um Tratado do
Cone Sul, incluindo os países da América que se empenham na preservação democrática. Não
acreditava surgissem óbices a uma sugestão desse teor. Quem se oporia à consecução de um projeto
com os objetivos nítidos de conter a expansão marxista? E continuou:
- O Chile não é comunista; a Bolívia, o Uruguai e o Paraguai, da mesma maneira, não o são.
Voltou-se, então, para o brigadeiro Orlandi Agosti - membro da Junta Militar da Argentina - e
interrogou-o:
- A Argentina é comunista?
A resposta do brigadeiro foi imediata: