-Absolutamente! De modo nenhum.
Dirigindo-me a palavra, cortesmente, indagou:
- E o Brasil, general? Penso que, ainda, não é comunista...
Senti a picada de ironia; porém, sem demonstrá-lo, retruquei com voz firme:
- Não é, nem será comunista!
A palestra retornou ao campo das generalidades sobre o país amigo e o almoço encerrou-se com
um brinde do presidente Pinochet aos países ali representados.
À tarde deste domingo teríamos a grande parada militar, de especial interesse para todos nós.
No hotel, enquanto descansava, aguardando a hora do desfile, repensei a frase do almirante
Merino, que não conseguia esquecer.
Por que aquele advérbio AINDA?
Era, pareceu-me, a forma de um homem emotivo dizer, embora eufemicamente, das suas dúvidas
sobre os caminhos políticos do governo brasileiro.
Tocou-me fundo aquela frase, visto que idênticas suspeitas haviam me assaltado, pelo que tinha
visto e ouvido nos corredores palacianos do Planalto.
O desfile militar mostrou-nos uma tropa bem exercitada e de rígida disciplina. Como novidade,
para nós brasileiros, as unidades de montanha, usando uniforme de campanha branco e equipamento
reduzido. Outro aspecto interessante foi o das formações de mulheres carabineiras.
A equitação e o salto foram sempre esportes cultivados com entusiasmo e êxito pela Cavalaria
chilena, que teve em sua história um cavalo - Huaso - detentor do recorde mundial de salto em altura
- 2,47 metros. Na véspera do regresso, assistimos na Escola de Cavalaria de Quilhota, na costa do
oceano Pacífico, a excelentes demonstrações dessas especialidades.
Guardamos do Chile e de seu governo a mais cara das impressões. Povo amigo do Brasil,
distinguiu-nos em todos os momentos. Adepto fervoroso da democracia, prestigiou com aplausos
espontâneos - que testemunhamos em oportunidades e locais diversos - os chefes de sua Revolução,
em particular o presidente Pinochet. As mulheres, exultantes durante os festejos, não ocultavam
informações sobre o período da ameaça comunista, lembrando terem sido, nas marchas de protesto
realizadas, agredidas pelos marxistas, que lhes lançavam ao rosto batatas nas quais cravavam
lâminas de barbear, tentando feri-las nos olhos e faces. Não esqueciam o pavor que lhes causaram os
ratos e sapos jogados sobre elas.