IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

exposição, à vista de maquetes, da obra ensejada, de seus custos e das dificuldades de realização.
Lamentavelmente todo o nosso esforço para sensibilizar os ilustres visitantes foi perdido. O ministro
Ney Braga prometeu apenas examinar a possibilidade de obter um auxílio de dez milhões de
cruzeiros para uma obra orçada em mais de duzentos e cinqüenta milhões, e ainda assim não
assegurou o obtivesse.


A questão educacional, por princípio, pertence àquele ministério, todavia o Exército arca com a
quase totalidade das despesas de um ensino que não lhe cabe, obrigatoriamente, ministrar. Dele se
servem todos, inclusive os civis, e de sua eficiência, padrões morais e rigor falam, nas épocas
oportunas, os responsáveis pelos candidatos à matrícula, na ânsia de conseguir vagas.


Reconheço que esse descaso por um empreendimento que tantos benefícios traria à população de
Brasília deixava-me perplexo.


O Presidente da República, a quem participei o reinício das obras, abandonadas nos alicerces, e
ao qual dei notícias constantes da evolução dos trabalhos, nunca concedeu ao Exército recursos
específicos para o prosseguimento da construção, e o ministro Ney Braga, forçado pelas
circunstâncias, estava pretendendo dar-nos um óbolo e não um apoio substancial.


O Exército nada estava postulando, porquanto a missão de educar, a rigor, naquele nível e tipo
de ensino, não lhe cabia. O que se desejava era uma cooperação, que deveria ser feita em termos
elevados. Nós compreendíamos a histórica vocação militar para o sacrifício, desde que beneficiasse
a Nação, e nos orgulhávamos de possuí-la. Não tratei mais deste problema com ninguém e passei a
equacioná-lo, exclusivamente, com os nossos meios.


Os militares, quando se transfiguram em políticos, só se lembram do Exército nos momentos de
suas dificuldades, para nele se escudarem. Nestas ocasiões despem rapidamente as casacas e vestem
as fardas, transformando-se, num passe de mágica, em severos e ciosos guardiões dos brios da
instituição.


O fenômeno não é novo. Já existia no passado, consoante as observações de Oliveira Vianna
contidas em seu excelente livro, ao tratar do panorama do Congresso Nacional em 1889:3


Desde que nas discussões com os civis, os militares agiam como cidadãos e não como militares,
as injúrias que porventura resultassem desses debates deviam recair logicamente sobre elles, não
como militares e sim como cidadãos; mas o facto é que não acontecia assim, ... quando ofendidos
pelos civis, invocavam logo, ... a sua condição de militares e passavam a agir como taes, na
defesa da honra da farda e da dignidade da classe.

A Revolução de 1930 trouxe-nos um exemplar perfeito dessa mentalidade no general e senador
Pedro Aurélio de Góis Monteiro, para só citar o mais ilustre vulto do grupo adepto dessa esdrúxula
doutrina.

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