IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Lembrei ao presidente que aquela Brigada não estava vaga e que seu comandante - general Mário
Sousa Pinto - vinha fazendo um bom comando, como pessoalmente verificara em inspeção.



  • É um juscelinista, vou tirá-lo de lá..., foi a reação do general Geisel.


Retirei-me e mandei chamar o general Morais Rego que, pouco depois, procurou-me em minha
residência.


Disse-lhe, então, que o presidente pretendia classificá-lo - a seu pedido - em Campinas,
deslocando para isto o general que ali estava. Interroguei-o sobre o seu interesse de servir numa
Divisão de Cavalaria, em vista de sua Arma de origem. Recordei-lhe a circunstância de ser amigo do
governador Paulo Egídio Martins, condição que lhe poderia criar situações embaraçosas, porque este
governador procuraria, naturalmente, apoiar-se nele na solução de problemas político-militares da
área paulista. Nesta hipótese, poderiam surgir desentendimentos ou melindres com os comandos
superiores. Acrescentei, ainda, que a 4á Brigada de Infantaria, em Belo Horizonte, estava sem
comandante efetivo e que ele poderia ser designado para aquele comando. Fazia somente
apreciações sobre a conveniência, para ele, daquela comissão, sugerindo alternativas, visto que a
decisão final era do presidente.


Respondeu-me o general Morais Rego que, como soldado, iria para qualquer lugar - o que não
era o caso, porquanto tinha pedido ao presidente a classificação em Campinas. Prosseguiu
reafirmando seu propósito militar de ajustar-se às exigências hierárquicas, das quais não fugiria.


Despedimo-nos cordialmente.

Esta simples entrevista, destituída de qualquer sentido político, deu origem a uma intriga,
lançando-me contra o presidente. Naquela época passou-me despercebida a preocupação do general
Geisel de articular, em São Paulo, um dispositivo militar, sob a égide política do governador seu
amigo. Já estava em avançado estado de gestação a candidatura Figueiredo, escondida sob os mais
diferentes disfarces, com a conivência do próprio general Geisel e a participação ativa do grupelho
do Planalto. O Comando de Campinas era força importante do sistema planejado; devia, pois, ser
ocupado por elemento de confiança do esquema político-militar. A possibilidade de outro general
ocupá-lo produziu certamente preocupações no Planalto; a reação e irritabilidade do general Geisel
não permitem ilações diversas. Acompanhemos o desenrolar dos fatos.


No dia seguinte o presidente mandou chamar-me em sua residência, no palácio da Alvorada.
Estava muito irritado e abordou-me com a indagação:


-Você parece, Frota, que não entendeu ser prerrogativa minha classificar os generais?

E continuou...


  • Assim nós não nos entendemos...

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