IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

A CONIVÊNCIA COM CUBA


No segundo semestre de 1976, soube, por oficiais brasileiros que estiveram nos Estados Unidos -
notícias confirmadas, acidentalmente, em fontes diplomáticas - que os militares integrantes da junta
Interamericana de Defesa (JID) encontravam-se extremamente preocupados, após a conquista
soviético-cubana de Angola, com as possíveis ameaça e penetração marxistas no continente
americano.


Os elementos da Junta, órgão de planejamento e recomendação de medidas que visem à legítima
defesa do nosso continente, considerando aquela situação e as finalidades da JID, aventaram, no
início daquele ano, providências para impedir a interferência cubana nos assuntos internos das
nações americanas.


Coube, consoante se disse, ao chefe da representação brasileira a iniciativa desta proposta, logo
aprovada sem votos contrários pelos membros da Junta. Asseguraram as mesmas fontes que, sem
reações, os trabalhos preparatórios prosseguiram, também sem votos contrários, aguardando a
reunião para votar a recomendação definitiva.


Neste intervalo de tempo, as representações das nações americanas receberam orientação de
seus governos, e a do Brasil determinação para que votasse contra tal moção. Esta resolução deixou-
a aturdida.


Fora decisão pessoal do Presidente da República, que achava não ter o Brasil que se envolver
nas atividades de Cuba nos países americanos, o que somente interessava aos próprios países
atingidos. Os ministros Chefe do EMFA e das Relações Exteriores já tinham, no entanto, sido
favoráveis à moção. Com muita insistência foi permitida pelo presidente a abstenção.


Estes fatos foram muito comentados pela repercussão que teve, nos meios militares de
Washington, o comportamento da delegação brasileira, tomando posição de abstenção num problema
considerado vital por todas as nações e que constituía tema obrigatório de debates veementes
naquela Junta. Os comentários focalizavam, em particular, o ridículo em que ficou o chefe da
delegação, ao levantar-se para emitir o seu voto de abstenção a uma proposta que fizera e que
recebera o apoio da maioria dos membros da Junta.


Inevitável foi que, entre sorrisos discretos, olhassem-no com sarcasmo.

Tudo isto fruto da tal política de desconhecer a atitude de Cuba, esquecendo, também, o espírito
do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca. Mantinha-se o Brasil na mesma orientação

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