Como poderia eu evitar que um outro general tratasse da sucessão se um general, diretamente
subordinado ao Presidente da República, era o primeiro a abordar publicamente a questão?
O general Hugo reconheceu que o acontecimento era desagradável, dizendo que iria conversar
com o presidente. Nada transpirou, no entanto, sobre as reações no palácio do Planalto quanto a esse
escaldante assunto.
Todavia, em 6 de junho, na ocasião da missa por alma de dona Alzira Geisel, rezada à tarde na
igreja de Santo Antônio, a ocorrência repetiu-se. À entrada do templo encontravam-se o general
Figueiredo, em traje civil, e dois oficiais superiores - o coronel Danilo Venturini e o tenente-coronel
Idyno Sardenberg Filho. Cumprimentei-os, mas não me detive.
No dia seguinte a imprensa divulgou nova entrevista do Chefe do SNI que, entretanto, parece não
ter soado bem no palácio do Planalto, dada a presteza com que os assessores do presidente tentaram
desmenti-la. Conversei, mais uma vez, com o general Hugo Abreu, lamentando esta teimosia em
burlar uma orientação presidencial.
O general Figueiredo, interpelado pelo presidente, na presença do general Hugo Abreu, negou a
autoria da entrevista; contudo esta foi, na verdade, concedida, e os jornais a divulgaram sem
deformações. Não se esqueçam, os que lêem, possuir eu na época excelente serviço de informações,
que só falhou, por motivos até hoje inexplicáveis, no dia 12 de outubro de 1977.
O general Hugo Abreu, de quem, como já disse algures, era amigo, narrou-me a cena da negativa
no palácio, bem como a conversa que mantivera com dois jor nalistas e um dos oficiais que estavam
com o general Figueiredo à porta da igreja. Todos lhe asseguraram a veracidade da entrevista e
fidelidade de sua publicação, porquanto fora gravada.
Estas declarações do general Figueiredo, para mim, estavam inseridas no contexto de um plano
iniciado com os discursos de 22 de dezembro de 1976 e que teve seu ponto alto na sórdida Farsa de
Outubro.
Assim agia sem exceções o grupo palaciano. O secretário Heitor Aquino, um de seus mais
lídimos representantes, certa vez disse a um de meus assessores que, politicamente, um homem não
deveria ser vencido, porém destruído.
Talvez este fosse o pensamento dominante naquele grupelho, porque, após a Farsa, houve a
difusão, pelas revistas e jornais ligados ou dependentes do palácio, de um noticiário explicativo dos
acontecimentos, falseando a verdade e distorcendo fatos, objetivando deixar em situação antipática e
condenável o ex-Ministro do Exército e enaltecer a atitude do general Geisel. Todavia, esta era uma
nova fase da sucessão, da qual trataremos oportunamente.