Contou-me o deputado Synval Boaventura que encontrara, no Hotel Nacional de Brasília, o ex-
ministro Mario David Andreazza. Cumprimentaram-se e palestraram amigavelmente, tendo
Andreazza lhe perguntado:
- Boaventura! Por que você é contra o João?
- Não sou contra o general Figueiredo. Sou amigo do general Frota e aprecio-o muito.
Em face desta resposta disse-lhe Andreazza:
-Você poderá se arrepender!
Pouco depois deste fato, tomei conhecimento de que o coronel Andreazza dissera a um amigo
comum, de grande influência junto ao presidente Médici, o seguinte:
- Seu candidato é um inimigo meu! (Referindo-se à minha pessoa.)
A resposta não se fez esperar:
- Então, estamos pagos, pois o seu candidato é um inimigo meu. (Referindose ao general
Figueiredo.)
Surpreendiam-me estas informações, porquanto não me considerava inimigo de Andreazza.
Rebusquei no passado a explicação.
Conheci o major Andreazza quando servi, antes da Revolução de 1964, na Escola Superior de
Guerra, onde éramos adjuntos da Divisão de Assuntos Militares.
Oficial muito inteligente e trabalhador, destacava-se pela eficiência.
Não era homem de recursos, e suas dificuldades financeiras, sabidas de todos. Todavia, isto só
poderia enaltecê-lo, porquanto ser pobre não constitui desonra. Eu, também, o sou e sinto-me
orgulhoso de continuar a ser depois de ter ocupado altos cargos na vida administrativa do país.
No entanto, não considero que a riqueza - e seria absurdo considerar - obtida através das
oportunidades, concedidas aos homens dignos e de valor, traga descrédito.
O que desacredita, avilta e desonra, o que finalmente esboroa a probidade do homem, é o
enriquecimento pelos caminhos tortuosos e escabrosos da corrupção, em suas diferentes
modalidades, que são muitas.
Mario Andreazza era inegavelmente pobre, porém um homem que acalentava ambições - não as
normais de conquistar posição de respeito na sociedade, assegurando vida decente, em lar cristão -
mas, indubitavelmente, ambições de mando e de viver o finesse social.