Naquela época, o Ministro da Guerra, tendo considerado que a Escola de Aperfeiçoamento de
Oficiais (EsAO), entre instrutores e alunos, absorvia grande número de oficiais, decidiu suspender o
seu funcionamento. Não desejando retardar, porém, a formação de oficiais de Estado-Maior, dos
quais o Exército muito precisava, autorizou, em caráter temporário, a inscrição no concurso à Escola
de Estado-Maior de capitães e subalternos que ainda não possuíssem o curso da EsAO.
Tal medida - casuística como diriam os espertos políticos de hoje -baseada na excepcionalidade
da guerra, anulava a rigorosa exigência regulamentar de que o oficial candidato fosse, no mínimo,
capitão com o curso de aperfeiçoamento. A nova prescrição, para os que conheciam o ambiente do
Exército, era inegavelmente nepotista, asserção bem evidente nos matriculados naquele ano de 1944
e, particularmente, no seguinte.
Embora capitão antigo, por encontrar-se fechada a EsAO, não tinha - como todos de minha turma
- o curso de aperfeiçoamento. Beneficiei-me, portanto, da esquisita determinação ministerial.
Realizei o exame e fui bem classificado, dentro das vagas fixadas, contudo não fui oficialmente
matriculado.
Surpreendentemente, o Ministro da Guerra, segundo se dizia em virtude de parecer do Estado-
Maior do Exército (EME), mandou matricular os oficiais "mais modernos" 12 em absoluto
desrespeito pela classificação e pelo esforço de seus comandados, numa disparatada resolução da
qual dimanou a matrícula do último dos aprovados - de número 113 - enquanto o primeiro colocado
não foi por ela contemplado. Esta aberração foi sanada com a magnânima e especial concessão
ministerial que permitiu sua matrícula, transformando um direito em favor.
Entretanto, todos os apaniguados e parentes dos seus colegas generais foram favorecidos e
matriculados, como podem comprovar os pesquisadores.
Há sobre esta desagradável e repelente questão outros aspectos de complacência paternal -
desalentadores dos que lutam sozinhos - que me dispenso de abordar para não alongar o assunto.
São "estórias" que, vexada, a História não conta!
O nepotismo constituiu sempre no Exército o fantasma do idealismo. Quando os chefes militares
aviltam a grandeza de servir ao Exército, usufruindo em proveito próprio e de seus familiares e
amigos vantagens e lucros decorrentes da influência dos cargos que a instituição lhes deu para
dignificarem a profissão das Armas; quando se esquecem dos padrões morais que juraram defender e
proclamar para conspurcarem-se no gozo de regalias materiais, quando relegam a plano secundário
os interesses do Exército e os direitos de seus subordinados, transmutam-se em caudilhos
racionalmente substituíveis, visto que a instituição que não renova seus líderes, saneando-se
moralmente, está fadada ao esboroamento.
Segui para a fronteira do Oeste brasileiro, em agosto de 1944, classificado no 11° Regimento de
Cavalaria Independente, em Ponta Porá, mas, em fevereiro de 1945, já estava de regresso ao Rio de