IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

preocupações e grande celeuma no grupo palaciano. Agitaram-se os partidários do general
Figueiredo, passando Portella a ser vigiado em todas as suas atividades, uma vez que era um exímio
articulador político, como o havia demonstrado na campanha do presidente Costa e Silva. Seus
movimentos e presença em Brasília, onde tinha parentes, eram cuidadosamente observados.


Jayme Portella, embora mais moderno do que eu, foi meu contemporâneo na Escola Militar do
Realengo. Ocupando alojamentos distantes, voltados para as atividades escolares, conhecíamo-nos
pouco, sendo as nossas ligações, eventuais e superficiais, próprias de alunos do mesmo
estabelecimento de ensino.


Escolhemos Armas diferentes; eu a Cavalaria e ele a Artilharia, o que não concorreu para
aproximar-nos. Revelava um certo interesse pela política, quer em seus problemas quer na tecedura
de seus difíceis fios, que urdia com precisão e habilidade. Antijuscelinista, acompanhou o presidente
Carlos Luz quando o cruzador Tamandaré abicou a Santos.


Após a novembrada do general Henrique Lott, sofreu as conseqüências de sua conduta
reacionária. Ignoro qual foi a sua atitude no episódio da posse do vice-presidente João Goulart; eu
fui contra. Teríamos evitado muitos males e agitações se a tivéssemos impedido. Amigo do marechal
Costa e Silva, acompanhou-o no movimento revolucionário de março de 1964. Nos primeiros dias de
abril daquele ano, teve violento atrito com o general Ernesto Geisel, a quem tomou ódio. Afirmou-me
certo dia que todo o anedotário desmoralizador a respeito de Costa e Silva, na época em que foi
ministro e depois presidente, tinha sua origem num grupo orientado pelo general Geisel. Participou
do gabinete do marechal, quando ministro, e foi chefe de sua Casa Militar, na Presidência.


Neste último cargo manteve comigo ligações quase diárias, pois desempenhava eu a função de
Chefe-de-Gabinete do general Lyra Tavares. Até então pouco nos víamos.


Adquiriu, ao longo de sua acidentada carreira, uma legião de inimigos, que o acusam de ter
abusado das posições que ocupou para beneficiar amigos e perseguir desafetos. Partem estas
imputações especialmente dos homens ligados à corrente político-militar Castelo-Geisel. Atingido
pela compulsória no governo Médici, afastou-se para a vida civil e jamais tivemos oportunidade de
encontrarmo-nos.


Não éramos, como se depreende desta síntese, amigos íntimos, porquanto nunca nos visitáramos.
Admirava sua lealdade e a profunda estima que dedicava ao marechal Costa e Silva, das quais deu
provas mantendo-se à sua cabeceira, no leito de morte, até seu passamento. Foi dos poucos que o
fizeram porque a maioria, os "amigos de ontem" do velho marechal, já estava engajada, a essa altura
dos acontecimentos, na procura do "senhor de amanhã".


Encontrei-o em Brasília, no setor comercial, ao tempo em que era ministro; isto já em 1977.
Conversamos sobre generalidades e revivemos fatos passados, como sói acontecer nos encontros de
velhos companheiros.

Free download pdf