IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Dias depois, no Congresso, começavam a surgir citações mais constantes do meu nome,
insinuando a possibilidade de ser candidato a Presidente da República, e os jornais aludiam a
reuniões de políticos para ventilar o assunto. No centro destas especulações aparecia sempre o nome
do general Jayme Portella.


Habituado às intrigas que enxameavam Brasília, pouca importância dava a estas notícias. O
general Hugo Abreu, preocupado com os fatos, aconselhou-me a declarar pela imprensa que não
autorizara tais manifestações e encontros.


Respondi-lhe que estavam sendo feitas à minha revelia, não me achando com o direito de
interferir. Os deputados usavam a palavra como bem entendiam; uns elogiavam o general Figueiredo,
outros o general Sylvio Frota, eram pontos de vista. Por que o general Figueiredo, citado aos quatro
ventos pelos congressistas, não desautorizava essas referências ao seu nome?


O general Hugo deveria estar a par dos mexericos palacianos, mas nada me disse.

Realmente, se havia alguém que tinha obrigação de falar de modo incisivo, acabando de vez com
as explorações dos jornais e das rodas políticas, era o general Chefe do SNI, que sabia, através de
sua eficiente rede de informações, mentirosos os enredos maldosos que percorriam a capital, no
iniludível propósito de criar balbúrdia sobre a questão sucessória.


Contudo, não o fazia, pois nas suas declarações, como as do dia 29 de julho - no palanque do
Exército - e as da igreja de Santo Antônio, abundavam termos no condicional, excluindo
possibilidades no presente sem negar a aquiescência no futuro.


Tínhamos, o presidente Geisel e eu, um compromisso de honra com a Nação - de não tratar do
problema sucessório antes do ano de 1978. Honrei-o até o último instante em que fui ministro. Seus
auxiliares diretos, todavia, agiram de forma contrária às suas afirmações públicas.


Por quê?

Conhecido o temperamento autocrático do general Geisel, não se pode admitir que o fizessem
contrariando o presidente. Tinham, estou hoje convencido disto, a sua tácita anuência.


Nunca disse a ninguém que me julgava presidenciável - nenhum homem de dignidade afirmaria o
oposto, porque mentiria - no entanto fui assediado, sob uma série de argumentos, por amigos, colegas
e políticos, para que me manifestasse favoravelmente neste sentido.


Jamais veleidades presidenciais sensibilizaram-me. Mas, poderia agasalhá-las, sem que isto
constituísse um crime; outros o fizeram.


Certa ocasião, em que inspecionava as unidades da 2á Brigada de Infantaria, em Niterói, contou-
me o general Walter Pires que o general Reynaldo de Almeida, então Comandante do 1 Exército, na
viagem de regresso ao Rio, dissera-lhe que não seria candidato a presidente por não querer dividir o

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