Os dois generais, a partir daquele momento, tornaram-se inimigos, suportandose apenas nas
questões de serviço. Ambos faziam-se péssimas referências.
A candidatura do marechal Costa e Silva, que não era estimado pelo grupo do presidente Castelo
Branco, proporcionou motivos para que esta inimizade evoluísse para o ódio. A campanha
sarcástica, vil e covarde de tentar desmoralizar o marechal Costa e Silva, através de um anedotário
que, a par de ridicularizá-lo, o difamasse, era e é atribuída por Jayme Portella a uma tríade integrada
por Ernesto GeiselGolbery-Leitão, este último um coronel de Artilharia conhecido pelo
desagradável e sugestivo apelido de "Caveirinha".
Reafirmou-me Portella, em oportunidades várias, que sua convicção, robustecida por provas
circunstanciais, era esta.
Retorno ao meu diálogo com Portella.
Depois de ter reafirmado a minha deliberação de esquecer aquele assunto até 1978, conforme
compromisso assumido, ouvi de Portella reiteração de que continuaria atuando, por achar um dever
de consciência fazê-lo, embora conhecesse minha maneira de pensar. Entretanto, por sentimento de
lealdade, avisar-me-ia, como estava ocorrendo naquele dia, de suas iniciativas. Apesar deste seu
propósito, somente depois que deixei o Ministério soube de muitas coisas que foram feitas sem meu
conhecimento.
Não consegui dissuadi-lo deste intento. Achava-se com o direito de escolher um candidato e de
divulgar sua escolha - argumentava em resposta.
Portella não podia aceitar a idéia da perpetuação no poder do grupo palaciano, inimigo de Costa
e Silva. Muito menos o fortalecimento e predomínio de Geisel na solução do problema sucessório.
Este parecia-me o seu "ponto de honra"; pois aparentava o mesmo ódio antigo a Geisel e Golbery,
podendo-se acentuar, com certo exagero, que o seu interesse maior estava na derrota da dupla
Geisel-Golbery do que propriamente na minha pseudocandidatura.
No entanto, o general Hugo Abreu, conhecedor profundo dos velhacos processos do grupelho
palaciano, diz, às folhas 123 do seu livro já citado, que a presença do general Jayme Portella, em
Brasília, "conduz à conclusão de que ele estava a serviço dos inimigos do Ministro do Exército".
Eu não chegaria a esta ilação, porquanto, o general Portella tendo muitos inimigos, não seria de
surpreender que tentassem enodoá-lo.
Todavia, sua adesão à candidatura Figueiredo, em 1978, usando como trampolim um dos
políticos mais odiados e desacreditados nas fileiras revolucionárias de 1964 - Petrônio Portella - e a
circunstância de encontrar, de chofre, no candidato oficial, qualidades às quais antes jamais aludira,
podem levar-nos a meditar mais sobre a opinião de Hugo Abreu.