IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

são do que desejos. Mostrara-se, a todos os momentos, revolucionário ardoroso e atuante, fazendo
alarde de sua formação militar. Seu rigor na defesa da causa revolucionária levou-o, consoante
informações difundidas em Brasília, a interrogar pessoalmente, até altas horas da noite, os
subversivos presos, no tempo em que exercia o Comando do Regimento de Cavalaria de Guardas.


Ao chegara Brasília, no cargo de ministro, vi-o e apreciei-o mais de perto. Então, foram ruindo
pouco a pouco os pilares de seu conhecido conceito, naturalmente, do meu ponto de vista.


Lembrando, em sentido inverso, a linguagem comparativa de Henrique III, de longe era muito
maior do que de perto. Defini-o como um homem mais político do que militar, disposto a penetrar
por qualquer caminho desde que o conduzisse ao poder. Considerei-o um homem sem convicções, ou
melhor, de convicções rotantes, o que torna difícil analisá-lo visto que, na opinião de Carlyle, a
primeira condição para que se possa estudar um homem é saber em que ele acredita.


Ao longe se afigurava como fulgurante farol, mas, de perto, não passava de bruxuleante
lamparina.


Não poderia eu, portanto, de sã consciência, aplaudir a indicação do general João Figueiredo.
Outro nome que surgisse constituiria objeto de apreciação. Todavia, o do general Figueiredo, se
aceito, seria uma calamidade para a exausta Revolução, a necessitar de uma urgente reintegração em
seus lídimos princípios e não de uma fase de concessões ilimitadas, que fatalmente levarão este país
a situações dificílimas. O general Figueiredo eleito presidente significaria, ainda, a continuação, à
frente dos destinos do país, do grupelho palaciano que, desde 1974, vinha desgastando a Revolução
de 31 de março e cuja presença no palácio do Planalto poderia, quando muito, em nome da unidade
revolucionária, já bastante abalada, ser tolerada até o fim do mandato de Ernesto Geisel. Sua
permanência no poder seria, do meu ponto de vista, catastrófica e inaceitável. Os fatos estão aí para
confirmar que a Revolução de 1964 exalou o último suspiro quando o presidente Médici desceu a
rampa do palácio do Planalto.


A partir daí começou a cavilosa contra-revolução branca do general Ernesto Geisel.
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