o Presidente.
Parece-me que tal procedimento mostra, na realidade, a ausência de malícia ou de segundas
intenções por parte de Frota. No entanto, esse fato foi colocado junto ao Presidente como prova
de que o ministro desejava fugir ao contacto direto com ele para não ter que dar explicações de
suas atividades políticas como candidato à Presidência.
Está claro que a intensificação das manobras em torno da candidatura Frota, no início do mês
de outubro de 1977, contou com muita participação de Golbery e seu grupo. Tratava-se, para
eles, de criar um fator maior, mais flagrante, que obrigasse o Presidente a exonerar o Ministro
Frota. Tratava-se de convencê-lo, afinal, de que o desembaraço com que Frota estimulava sua
candidatura punha em risco a própria autoridade do governo.
Foi, pois, mui acertada a minha decisão de não ir à audiência do dia 4 de outubro visto que,
administrativamente, nenhum proveito teria o Exército, enquanto no setor conjuntural proporcionaria
um saboroso prato a ser devorado pela perfídia de meus inimigos.
Mesmo assim os tartufos palacianos não perderam a oportunidade de tentar desmoralizar-me.
Fizeram correr pela imprensa e espalharam em todos os setores militares que eu, nos últimos tempos,
vinha faltando aos despachos presidenciais, procurando através dessas caluniosas mentiras
apresentar-me como um militar negligente. Acredito que a imprensa, por desconhecer o punhado de
farsantes que agia no palácio do Planalto, tenha dado credibilidade às suas informações capciosas;
entretanto, o que não posso compreender é que oficiais-generais, muitos dos quais haviam lidado
comigo, tenham aceito e homologado tal calúnia.
Ingenuidade não era admissível em homens de têmporas grisalhas, ocupantes dos mais altos
postos do Exército, portanto só poderemos explicar esses comportamentos pela irresponsabilidade.
Sim, porque somente um irresponsável repete acusações sem estar seguro de sua veracidade,
particularmente quando tem a impulsioná-lo a ânsia bajulatória. Neste caso chega ao desvario.
Desejo, apenas, citar um exemplo, dos mais repugnantes, destas imputações.
O Comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), general encarregado pelo
ministro de dirigir um estabelecimento de ensino destinado a jovens capitães que ali vão aprimorar
seus conhecimentos profissionais, fortalecer sua crença nos chefes e reafirmar sua sublime missão de
defender a Pátria, não pode ser um homem vulgar. É preciso que seja um militar que inspire respeito
por suas atitudes e mereça estima de seus subordinados pela elevação moral de suas ações.
Infelizmente muitas vezes isto não acontece. Homens que, no máximo, poderiam ser eficientes em
funções burocráticas, guindados por falsos conceitos - obtidos sob o manto da hipocrisia e suportes
de nepotismo - ascendem a cargos que podem ocupar fisicamente, mas jamais exercer
profissionalmente.
No dia 12 de outubro de 1977, o Comandante da EsAO, já a par de minha exoneração e
abastecido de mentiras recebidas dos escalões superiores, fez reunir os capitães alunos e falou-lhes