Em relação ao general Estilac Leal,2 na opinião da maioria do Exército, a sua escolha para
Ministro da Guerra foi péssima, surpreendendo ter sido feita por um homem de excepcional maestria
política. Eleito para a presidência do Clube Militar por uma corrente apelidada de nacionalista, da
qual, a todo instante, borbulhavam marxistas encapuzados de democratas, permitiu o general que ali
se instalasse uma verdadeira célula de esquerda? A escolha destes dois homens deixou, pois, a
impressão no meio militar de que aquelas imputações ao presidente eram verdadeiras.
Se adicionássemos a tudo isso a antipatia, tocando aos limites da hostilidade, que o grande
eleitorado do brigadeiro Eduardo Gomes, o derrotado de 1950, votava a Getúlio, não precisaríamos
ter dotes de pitonisa para vaticinar obstáculos sérios na rota do seu governo.
A política salarial de Getúlio veio agravar mais a situação no momento em que estabeleceu
novos níveis para o salário mínimo. Tal medida tinha de ser fruto de profundo e criterioso exame, em
particular das suas repercussões mediatas e imediatas sobre as demais classes, e não de impulsos
demagógicos emocionais, como habitualmente acontece.
O Exército sentiu a ameaça ao seu recrutamento para os quadros inferiores, tornado dificílimo
em face de o soldo dos graduados, em muitas áreas do país, ficar abaixo do novo salário estipulado.
Em início de fevereiro de 1954, espoca nos jornais o documento assinado por oficiais superiores
do Exército, historicamente conhecido como o "Memorial dos Coronéis".
Subscritaram-no, inicialmente, 79 oficiais superiores, cujos nomes, colhidos de várias listas,
separados por postos sem preocupações de antigüidade dentro destes, compuseram uma relação
remetida com urgência à imprensa. Mais tarde, outros oficiais também o assinaram, chegando seu
grande total a 130.
Na lista de coleta de assinaturas, que passou pelo EME, recordo-me bem, o coronel Luiz
Carneiro de Castro e Silva foi o primeiro a assiná-la. Honro-me de ter sido dos que imediatamente o
seguiram e jamais me arrependi disto, porquanto estava consciente das sanções que poderia sofrer.
Hoje - se tenente-coronel fosse - 27 anos depois, lendo e relendo aquele documento, por achá-lo, sob
vários aspectos, bastante atual, subscrita-lo-ia novamente.'
Nunca soube, ao certo, quem o redigiu, mas não há dúvida de que um grupo participou de sua
elaboração. Entre os seus componentes, afirmava-se, estavam os coronéis Jurandyr Bizarria Mamede
e Ernesto Geisel, os tenentes-coronéis Golbery do Couto e Silva e Newton Fontoura de Oliveira
Reis. Outros devem ter colaborado, porém desconheço seus nomes.
Uma síntese do "Memorial" foi entregue a cada um dos signatários, visando logicamente a
permitir o esclarecimento, entre os oficiais das organizações militares onde serviam, do conteúdo do
documentos
Deste resumo destaco, por julgá-los ainda pertinentes, apenas dois problemas dos que foram