ANEXO B
Carta do ex-assistente do general Hugo Abreu
Carta do major Adalto Luiz Lupi Barreiros, ex-assistente do general Hugo Abreu:
Campo Grande, 05 de setembro de 1978
Exmo. Sr. Gen. Frota
Peço à V. Excia., antes de mais nada, desculpas pela liberdade que tomo ao me dirigir à sua pessoa
no recesso do seu lar. Respaldo-me para isso no fato de que meus companheiros levaram ao Senhor a
posição que tínhamos no episódio de seu afastamento do Ministério do Exército. O Senhor poderá
identificá-los e por conclusão me identificar. Adianto-me de alguma forma. Servia eu como
Assessor-Adjunto de Relações Públicas da Presidência da República naquela ocasião. Dali saí
pouco depois, quando se caracterizou, para mim, o golpe branco que se aplicara na Revolução e por
concluir que todo aquele processo era resultado de um compromisso de grupo e que não tinha
qualquer respaldo da moralidade e da ética. Saí dali por vontade própria, e através de um documento
onde dizia por que saía. Não tinha compromissos pessoais com o General Hugo, embora tenha sido
testemunha da lisura com que êle procedeu antes e durante a sua exoneração. Vi-o cobrar do
Presidente o compromisso maior de que não havia jogo político no seu afastamento, como havia visto
antes todos os seus esforços no sentido de neutralizar as armadilhas que se armavam contra o
Ministro do Exército. Como V. Excia., êle e eu cometemos a ingenuidade de confiar na ética do
Presidente. Tarde, chegamos a conclusão que não havia ética no governo e, melhor do que eu, sabe
V. Excia. quais as razões e por quê. Hoje elas estão à mostra pública. Não há como escondê-las.
Não vale, agora, pois até haveria necessidade de estender-me demais nesta correspondência,
examinar com V. Excia. cada passo deste desastroso processo. Não há solução para êle. Vamos para
o porto onde nos levar um barco sem rumo.
Adianto-lhe ainda que sou partidário de qualquer solução que impeça o acesso daquele grupo ao
novo governo, pela simples razão que convivi de perto com seus principais personagens e sei o que
são e a que se levará o país. Por extensão sou partidário da solução que se apresenta, agora, como a
única possível para contrapor-se a esta tragédia de covardias, traições, servilismos e agressões à
vontade nacional, a Chefes Militares e princípios da Instituição Militar.
Sei, igualmente, que posição tem V. Excia. diante de todo este processo, e sobre as pessoas que se
constituem em seus protagonistas principais.
Mas, é preciso interromper antes que seja tarde. Ou se retira o Exército da reprovação popular ou
levaremos trinta anos para recompor as feridas na Instituição.