IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

comandantes diretos. Abrira-se o ciclo da "disciplina relativa" fundamentada na divinização do
César - tudo que lhe agradasse era lícito, algo que lhe desgostasse, condenável. Impunha-se, como
imprescindível dar um enterro imediato, de luxo, aos incômodos e obscuros regulamentos vigentes,
estruturados na moral e nos seus sadios princípios, para substituí-los por outros mais progressistas,
calcados no servilismo, casuísmo e pragmatismo, os "ismos" do Brasil moderno. O túmulo para
sepultá-los não chegaria a constituir problema, porquanto já fora cavado, em 12 de outubro de 1977,
pelas espadas dos generais-de-exército do Alto Comando da época.


Por que não foram ao meu gabinete? Nada os impedia de ir, opinar na reunião do Alto Comando,
retirando-se depois para ouvir o presidente.


Nunca lhes falei em política nem lhes dei oportunidade de abordar - o que jamais foi tentado -
qualquer assunto, sob qualquer aspecto, que atingisse direta ou indiretamente a pessoa do presidente.
Debatíamos em nossas reuniões, além dos problemas especificamente militares, a influência que
certos comportamentos políticos de certos homens do clero e dos liberais de esquerda podiam ter nas
questões de segurança interna, o que constituía, também, matéria de nossa exclusiva competência.


Nenhum dos generais do Alto Comando convocado poderia dizer, sem falsear a verdade, que
ouvira de meus lábios palavras sobre candidaturas ou sucessão presidencial. Desafio que algum
deles, sem mentir, possa citar fato ou palestra da qual eu tenha participado e que deixasse
transparecer, ainda que longinquamente, a intenção ou articulação de um golpe militar. No entanto,
ninguém alçou a voz para repelir as calúnias assacadas contra um colega - seu ministro - com quem
conviviam há decênios e cujo passado de lealdade aos chefes e respeito à disciplina bem conheciam.
E eu tinha entre esses homens um amigo de quase meio século, cuja amizade muito prezava.


Ao dizer, linhas atrás, ninguém, fui injusto com um nobre soldado - o general-de-exército Ariel
Pacca da Fonseca - que teve a coragem moral e a rijeza de caráter para dizer, altivamente, no dia 13
de outubro, ao presidente Geisel, que lhe soavam estranhamente aquelas acusações ao general Frota,
porquanto este nunca lhe falara em política, nem nos seus despachos nem nas reuniões do Alto
Comando do Exército.


Estas afirmações repetiu-as o generalAriel, pouco tempo depois, no auditório do Estado-Maior
do Exército, na presença dos oficiais ali reunidos.


Indago, novamente - por que agiram assim?

Talvez porque, em muitos, as calúnias dos poderosos repercutissem como axiomas. Eram, em
princípio, verdades que não precisavam ser demonstradas... Talvez porque a ambição calasse a
outros.


O único general integrante do Alto Comando que respondeu ao chamado de seu ministro,
comparecendo imediatamente ao meu gabinete, foi o general-de-divisão Luiz Serff Sellmann -
interinamente Chefe do Departamento Geral do Pessoal. Soldado de nobre estirpe, que jamais se

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