coordenação.
Focalizando-a sob este último aspecto, diz Glauco Carneiro em seu livro:' "Atingiu ao auge essa
descoordenação ao chegar Cordeiro de Farias a Minas Gerais para saber se a revolução fora mesmo
deflagrada (a 31), quando ali se achava, desde 28 de março, o marechal Odílio Denys, informando e
acelerando o Movimento..."
Os numerosos grupos que se espraiavam pelo nosso imenso território, constituindo uma
verdadeira legião de dissidentes e opositores do governo, porém, não estavam alinhavados para
formar um sistema, não ofereciam, por isso, ao poder central o perigo de uma consistente e poderosa
unidade de força. Nessa legião dispersa e heterogênea em que predominavam os idealistas
democratas havia coortes mistas de frustrados, oportunistas, ambiciosos e, até, adversários políticos
do governo, reforçadas na oportunidade pelos ladinos e tradicionais adesistas de última hora.
Contudo, todos esses homens, de tendências e pontos de vista diferentes, tinham de comum, pelo
pavor ao futuro, a obsessão de derrubar o governo de João Goulart, numa irreprimível reação contra
a calamitosa situação do país - de ruína moral, devastação econômica e desespero social.
Queriam, ansiosamente, mudar a conjuntura que os importunava; no entanto, em maioria, não
pretendiam adotar novos padrões de vida. Tencionavam depor para repor, mas nunca para compor
uma situação diferente. Com esse objetivo de restabelecer, lançar-se-iam, sem vacilações, como o
fizeram, na luta.
Neste ângulo restrito poderia ser admitido o Movimento de março de 1964 como uma contra-
revolução, pois a revolução socialista encontrava-se em sua derradeira fase, bem explícita na famosa
frase proferida com euforia- consoante se diz e escreve - por Luís Carlos Prestes: "Já temos o
governo, só nos falta o poder."
Golpe de Estado, rótulo que muitos lhe conferem, não o distingue com absoluta exatidão, ainda
que dele tenha muitas características.
Este tipo de ação militar é lançado de cima para baixo e processa-se de surpresa em áreas
restritas de suma importância. Não conta, normalmente, com a participação do povo, em virtude do
sigilo que a operação exige para ser imprevista e bem-sucedida. Este auxílio popular, a rigor, deve
ser entendido como o que provoca o acontecimento, isto é, aquele que através de manifestações de
violência - desordens, distúrbios, motins etc. -, revelando o propósito revolucionário, força e
precipita a ação contra o governo constituído. Nele não podemos incluir as demonstrações públicas
de solidariedade ou repulsa que, não obstante significativas de sentimentos dominantes numa parcela
da população, são forma de apoio mais platônicas do que concretas.
As marchas de protesto, à semelhança das realizadas pelas mulheres brasileiras antes de 31 de
março, tiveram o inestimável valor de alertar a Nação para o perigo que nos rondava, de despertar
sua consciência cívica para a trama que governo e comunistas teciam visando a agrilhoar-nos ao