O marechal Cordeiro de Farias e os generais Geisel e Golbery, inconformados com a
candidatura de Costa e Silva, solicitaram exoneração. Desejavam certamente continuar no poder,
participando do próximo governo em posições de destaque, objetivos que jamais conseguiriam com
Costa e Silva.
O marechal Cordeiro de Farias, em carta ao marechal Castelo, insinua grosseiramente que o
presidente ou achava a candidatura Costa e Silva boa e a queria, ou estava comprometido de modo
irreversível com o candidato, ou ainda temia uma secessão - não está dito, mas subentende-se - nas
Forças Armadas.
O presidente, de cujos patriotismo e amor ao Exército dera, em sua longa vida, exuberantes
provas na paz e na guerra, repeliu as duas primeiras imputações. Silenciou, porém, sobre a última.
Conhecia profundamente a instituição em que vivera e não desejava vê-la esfacelada por motivos
políticos. Seria uma vitória de Pirro.
Realmente, posso assim falar porque vivi esses momentos dificeis; o Exército não estava
disposto a permitir fosse Costa e Silva ludibriado. Muitos generais, entre os quais eu me encontrava,
manifestavam claramente, e em bom-tom, este propósito.
Lastimavelmente, esse pensamento superior que distinguia o marechal Castelo não iluminava os
seus assessores diretos. A carta de Cordeiro de Farias revela uma frustração e a frase seguinte do
general Ernesto Geisel - Chefe da Casa Militar do presidente Castelo - é um triste exemplo de até
onde a ambição pode levar os homens: "Vamos vender o futuro por uma solução precipitada do
presente. Pouco importava que houvesse crise agora, essa crise que estão querendo evitar. Prefiro até
que haja, e, se eles ganharem, que venham e assumam a responsabilidade do governo.."$
Estas palavras, segundo o mesmo autor, foram proferidas na reunião realizada pelo presidente
Castelo, em janeiro de 1966, em que as inelegibilidades dos ministros foram reduzidas, favorecendo
deste modo a permanência de Costa e Silva à frente do Ministério do Exército.
A crise, a que se referia o general Geisel com tanta simplicidade, poderia levar a um confronto
armado e evoluir para uma luta fratricida.
Dez anos mais tarde, o general Golbery, então Chefe da Casa Civil do presidente Geisel, ao ser
entrevistado por um jornalista do Estado de S. Paulo, referindo-se à sucessão presidencial vindoura,
usou a expressão: "Nós não entregaremos o governo."
É uma egoística e obstinada coerência do seu grupo, sempre em busca das posições de mando.
Eleito Costa e Silva não desapareceu, no entanto, a associação castelista que manteve sob severa
crítica o novo governo. Contou-me o general Jayme Portella - várias vezes - que as tentativas de
desmoralização do marechal presidente, procurando ridicularizá-lo como um homem bronco e
despreparado, através de um anedotário jocoso e baixo, tinham origem nesse conjunto de