Os políticos, em estúpida arrogância, lançaram a luva na face do Exército. Iriam ter a resposta
imediata e violenta. Deram-nos a oportunidade de criar um instrumento de força revolucionária para
conter a subversão, o qual foi julgado necessário pelos governantes, durante mais de dez anos.
Naquele dia 12, o ministro Lyra Tavares, sob baforadas de seu charuto, acompanhava de seu
gabinete a marcha da votação em Brasília, através de contínuas informações que lhe dava. Em dado
momento, em que os votos contrários à concessão da licença ultrapassaram a metade do quórum
presente, negando assim a medida pedida, penetrei naquele local e disse-lhe:
- Ministro! A Câmara acaba de negar licença para processar o deputado Márcio Alves!
Levantou-se da poltrona, tranqüilamente, fitou-me e respondeu:- Frota! Eu não tenho mais condições morais de ser Ministro do Exército. Vou ligar para o Costa
e Silva...
Instantes após conversava com o presidente, que se achava no Rio.Foi uma tarde de agitação. As reclamações e protestos convergiam sobre o Chefede-Gabinete,
que tem entre suas obrigações não regulamentares a de ouvir dos colegas tudo aquilo que pensam
sobre a situação, mas não têm audácia de dizer ao ministro. Submetendo-me a este dever social, ouvi
dizerem cobras e lagartos dos políticos.
À noite os generais do 1 Exército, tendo à frente o general Syseno, procuraram o ministro, em
busca de uma decisão. Outros foram chegando com o mesmo objetivo, atingindo seu número a vinte e
cinco.
O ministro Lyra resolveu reuni-los no 100 andar, no seu apartamento privativo, mais discreto
para conversações que se anunciavam difíceis.
Foi uma reunião histórica.Gotejavam de Brasília notícias de que os deputados comemoravam, sob champanhe, a grande
vitória do Poder Legislativo sobre a ditadura militar, levando a tensão a ponto incontrolável.
O ministro, sem se deixar dominar pela emoção, narrou a sua entrevista com o presidente e a
promessa, que este lhe fizera, de que iria tomar providências. Este compromisso não agradou, tendo
para a maioria o sentido de uma procrastinação, objetivando contornar o inesperado transe. Trazia o
mau odor das capitulações.
Syseno propôs procurar o general Costa e Silva, pois viera de Brasília e aferira a temperatura da
oficialidade, temendo por um ato de impensada violência de qualquer grupo. Carlos Alberto Cabral
Ribeiro, em determinada ocasião, foi ao telefone e, com a coragem habitual, ligou para a 2á Brigada
de Infantaria, cujo comando exercia, dando a seguinte ordem ao seu Chefe de Estado-Maior: