IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

interesse da Segurança Nacional. Poderia assim o general permanecer no cargo e no Exército ativo.
O presidente Costa e Silva não aceitou a tese e atendeu ao pedido de demissão do ministro.


Do meu ponto de vista, o general Afonso considerava-se um candidato em potencial para
substituir Costa e Silva. Pretendia, pois, enfrentar a luta pelo cargo, se possível como militar e
ministro, porém, se não realizável esta condição, preferiria desligar-se da posição de ministro e
arrostar a campanha apenas como militar - área em que, pelos seus inegáveis méritos e valor
histórico revolucionário, possuía, na realidade, grande prestígio.


A esta altura dos acontecimentos, já se delineavam no seio da Revolução três grupos militares,
de tendências e aspirações diferentes: o grupo castelista, de inclinações liberais centro-esquerdistas,
em que se destacavam os generais Cordeiro de Farias, Ernesto Geisel e Golbery, homens em geral
ligados à Escola Superior de Guerra, onde iam buscar as bases de suas atividades; o nacionalista, de
fortes tinturas socialistas com Afonso de Albuquerque Lima, Euler Bentes Monteiro e outros
generais, dispondo, segundo se dizia, da valiosa simpatia de Juarez Távora; e finalmente o grupo
ortodoxo, conservador sem ser imobilista, fiel às teses do Movimento de 1964 e que tinha na sua
liderança a figura dominante de Costa e Silva.


Assumi, nos últimos dias de fevereiro de 1969, ainda como general-de-brigada, o Comando da
1á Região Militar. Foi praticamente uma determinação do presidente Costa e Silva. Ia iniciar-se a
violenta e lamentável incrementação da luta aberta contra a subversão, provocada pelos próprios
comunistas com seqüestros, assassínios e tentativas de criação de áreas liberadas no Norte e
Nordeste.


Todo o peso dessa difícil fase caiu sobre os Exércitos, que atuavam em áreas extensas sem uma
organização adequada para combater a guerra revolucionária.


Desgastado pelas pesadas tarefas administrativas e reações políticas, mortificado com as
contrariedades que lhe causavam as injustas imputações partidas até de amigos, o presidente adoece
repentinamente em fins de agosto. Agravando-se sua enfermidade, desloca-se para o Rio de janeiro,
onde ilustres médicos diagnosticam trombose cerebral para a doença que o acometera. Considerado
temporariamente incapaz para exercer o cargo, uma junta constituída dos três ministros militares,
com base no Ato Institucional n° 12, passa a desempenhar as suas funções até, logicamente, o
restabelecimento de Costa e Silva.


O AI-12 estabelece um perigoso período de temporariedade de governo, propiciando, assim,
campo aberto às lutas pela sucessão, que infelizmente já vinham ocorrendo, sórdida e surdamente,
nos bastidores militares e nos gabinetes políticos. Todos ambicionavam o poder, para si ou para o
seu grupo, sem o mínimo respeito pelo chefe moribundo que fora o homem forte da Revolução. Nem
a comiseração cristã sensibilizou seus amigos "diletos" para visitá-lo ou ir ao palácio saber notícias
suas. E ali estiveram muitas vezes a incensá-lo delirantemente. Os seus inimigos valeram-se de sua
agônica imobilidade para espicaçá-lo como abutres sobre o leão estertorante.

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