Sabor Club - Edição 37 (2020-02)

(Antfer) #1

24 | Sabor. club [ ed. 37 ]


ANTES DE CONTAR AS AVENTURAS DA confeiteira louca por berries que
descobriu o cultivo de baunilha na região serrana do Rio, a gente pode dizer que
tudo começou com os olhos de criança diante da televisão, em cena do filme
Caravana da Coragem: a menina de cachos louros, perdida na floresta dos ewoks
(aqueles ursinhos de pelúcia, lembra?), catando frutas silvestres para fazer uma
torta. Laila se encantou.
“Morei em Teresópolis na infância, e amava as pequenas amoras que a gente
encontrava no mato”, diz. “Nunca brinquei de boneca, só de cozinha. Minha
avó tinha coleção de revistas importadas de gastronomia, e com 11 anos passei a
madrugada na casa dela fazendo éclairs”, recorda.
Sim, éclairs. O brigadeiro veio depois, quando ela caprichava em versões
mais sofisticadas do doce. Mas vamos por partes, diria o esquartejador de tortas.
Porque muitas doçuras passaram por baixo das pontes de Laila Caminha antes
que ela virasse o maior sucesso entre as ‘formiguinhas’ da feira Junta Local, com

sua marca Baked, além de confeiteira da Slow Bakery, responsável pelo sensível
salto de qualidade nos doces da cultuada loja de panificação artesanal carioca.
Aos 37 anos, Laila é formada em Gastronomia na faculdade Estácio de Sá,
fez cursos na parisiense Lenotre e trabalhou em boulangerie de São Francisco,
nos EUA, período fundamental para a pegada de seu trabalho, que mescla a
essência clássica das divinas tarteletes ao estilo rústico dos bolinhos de milho
com goiabada, do vulcão de chocolate e do croissant de fermentação natural
desenvolvido com o padeiro Rafa Brito, promessa de filas na Slow Bakery.
“Minhas paixões são as frutas vermelhas e a baunilha, coloco em tudo que
posso. Também amo caramelos, e já fiz com bacon artesanal, framboesas, e
baunilha natural com flor de sal”, diz, referindo-se à última safra das favas
cultivadas em sítio escondido na região de Cordeiro, na Serra Fluminense.
Na Junta Local, a confeiteira aproveita os ingredientes dos produtores
presentes para criações como um bolinho de fubá branco do Sítio Córrego Alto,
em Trajano de Moraes, com doce de leite de cabra do Rancho das Vertentes,
em Barbacena (MG). Delícias concorridas produzidas no seu apartamento em
Copacabana, com o projeto da inauguração, em breve, de uma cozinha de
produção, “quem sabe com uma portinha aberta para a rua”.

Que baunilha
é essa?
Como a africana,
ela cresce por aqui
mesmo, na Serra
fluminense

A história da baunilha
fluminense começou
no século 19, quando
um barão e médico
que trocava espécies
vegetais com
mexicanos e indianos
começou o cultivo
das favas na região de
Cordeiro. Hoje é Bento,
o tataraneto, que
mantém a pequena
plantação descoberta
por Laila através de
amigos produtores das
redondezas. “Fiquei
obcecada e comprei
toda a safra”, diz. “Eles
são reservados e
não saem da serra”.
Segundo ela, a
baunilha seca durante
três meses ao ar livre,
em processo delicado,
e o resultado nada
deve às importadas.
Em 2017, aliás, um
ciclone acabou com a
famosa produção de
Madagascar, na África,
que não recuperou o
preço e a qualidade
anteriores, o que torna
ainda mais valioso o
achado da baunilha
do Rio.

“Minhas paixões são as frutas vermelhas e a baunilha, coloco
em tudo que posso. Também amo caramelos, já fiz com bacon
artesanal, framboesas e até baunilha natural com flor de sal”
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