Sabor Club - Edição 37 (2020-02)

(Antfer) #1

Até chegar ao posto atual, onde circula pelos
restaurantes para conferir a qualidade das receitas,
Batista fez de tudo na cozinha, foi sub-chef no Olympe
e incorporou as técnicas francesas em
receitas nordestinas.
Sua galinhada com quiabo, favas e farofa crocante
já foi tema de menus harmonizados, acompanhada
pelo tinto francês Chateau Etang de Corbières, da
região de Languedoc, em jantar na CT Brasserie. Sem
falar no Picadinho do Batista, prato famoso que inspira
a ideia de um novo restaurante (veja quadro).
Morador da Rocinha, a famosa favela carioca, com
cerca de 100 mil habitantes, de onde não pretende sair,


o nordestino surge nas folgas de bermuda e chinelo no
botequim, entre cervejas e amigos, ou fazendo barba,
cabelo e as unhas em seu salão “de fé” na comunidade.
Nas feiras e no abatedouro, escolhe os produtos
para os almoços em sua laje no alto do morro,
praticando cabritos ensopados, jabás com jerimum e a
feijoada que é pedida certa nas festas dos Troisgros.
“Faço com orelha, pé de porco e tudo que tem
direito, mas retiro parte da gordura, limpo, desosso e
sirvo as carnes separadas.”
Entre as receitas do patrão, a preferida vem do mar.
É o cherne com banana em molho de manteiga, limão
e passas, que lembra outra cena marcantes da dupla
dinâmica, ambientada nas viagens atrás de peixes
frescos em Niterói. “A bobina esquentava e a gente


acabava de madrugada, empurrando a Variant amarela
do Claude na ponte”, conta Batista.
E recorda mais momentos, às risadas: “Uma vez
fomos direto do aeroporto para a cozinha, chegamos
no hotel e só tinha uma cama de casal. Dormimos cada
um com os pés para um lado”.
Os anos a fio de convivência, perto ou longe
do fogão, apertaram os laços de uma amizade que
pede trilha sonora de Luiz Gonzaga, nos muitos
forrós frequentados pelos dois após o trabalho, “para
desestressar”.
Em especial de fim de ano para a televisão a cabo,
Claude foi à Paraíba visitar a casa de Dona Eunice, a

mãe de Batista. Teve bate papo na cozinha, lágrimas
de emoção e um bacalhau com frutas secas preparado
pelo francês no jantar natalino.
Desde as primeiras aparições acidentais no
Menu Confiança, programa que estreou em 2005,
onde o chef francês o chamava em cena para levar
algum tempero que havia esquecido, Batista virou
personagem obrigatório ao lado de Claude.
Os números da audiência mostraram que a plateia
gostava das intervenções do fiel escudeiro, que viveu
seu auge de popularidade em O Mestre do Sabor, da
Rede Globo, à vontade para mostrar sua veia cômica.
“Até hoje o chef Claude puxa o sotaque e faz
charme, então passei a puxar o meu também de
paraibano. Por que não posso ser charmoso?”

Sua galinhada com quiabo, favas e farofa crocante já foi tema de menus harmonizados, acompanhada
de grandes vinhos franceses. O picadinho do Batista é tão especial que vai virar restaurante

Chez Batista
Vem aí restaurante do paraibano, ao lado da balada casa com o nome do patrão
Foi num evento de gastronomia no Rio que Batista lançou seu clássico carioca, com toque nordestino. “Fiz
o picadinho com coxão mole e puxado no vinho, como o boueuf bourguignon, acompanhado de purê de
aipim com manteiga de garrafa e a farofa panko. Acabaram com tudo”, conta. O prato é tema de eventos e
está em cartaz no almoço das terças-feiras na CT Brasserie, no shopping Village Mall, em versão feita com
filé mignon e purê de baroa. Mais do que isso inspira a criação do Chez Batista, restaurante que está no papel
desde a inauguração do Chez Claude e, comme il fault, deve ocupar, ainda este ano, a loja exatamente ao
lado da famosa casa do patrão, no Leblon.
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