Sabor Club - Edição 37 (2020-02)

(Antfer) #1

56 | Sabor. club [ ed. 37 ]


EM 18 DE JUNHO DE 1908, O
NAVIO KASATO Maru aportou em
Santos, no litoral paulista, trazendo
a primeira leva de imigrantes
japoneses ao Brasil. Os primeiros 781
imigrantes nipônicos que chegaram
por aqui foram para o interior paulista,
trabalhar nas lavouras de café. Mas as coisas
não foram tão bem quanto imaginaram e
eles passaram a se concentrar em sítios no
entorno de São Paulo. Sorte nossa.
Pelas mãos orientais, descobrimos
não só novos modos de produção
agrícola, assim como ingredientes nunca
antes vistos em terras tropicais, como o
pepino e a berinjela.
Então vieram tomates e outras
frutas, ervas e a introdução do conceito de
cooperativas que regulavam o valor de venda
dos produtos, para comercializá-los a preços justos.
Hoje, 112 anos depois, os agricultores japoneses se
dividem em duas linhas: os grandes produtores, maior
parte ligada a soja, que cresce como capim no centro-
oeste do Brasil. E os pequenos produtores do chamado
cinturão verde paulista. Eles ainda produzem pouco, mas
com muita qualidade, a partir da aplicação de técnicas
avançadas, por trás da simplicidade do modo de vida
adotado por ali.
Um rolê por cidades como Sorocaba, Atibaia, Mogi das
Cruzes, entre tantas outras, ao redor da capital paulista
revelam um universo fascinante, onde descobrimos gente
como o lavrador Roberto Furuya que, entre uva, pêssego,
maracujá e ameixa, produz rara dekopon, conhecida como
a tangerina japonesa. O seu cultivo exige tanto capricho

que o agricultor já recebeu técnicos
disponibilizados pelo governo
japonês para aprender as melhores
formas de manejo. Na sua cidade,
São Miguel Arcanjo, ele também
ajuda a manter a maior biblioteca
japonesa do país, com 74 mil livros e
quadrinhos.
Tanta riqueza chamou a atenção da Maíra
Kimura, da Yumi Shimada e da Fernanda
Ueno, nikkeis da terceira geração de
japoneses por aqui, ambas cervejeiras,
donas da cervejaria Japas. Elas vêm
fazendo um trabalho notável ao ir em
busca de ingredientes produzidos pelos
antepassados, não só para valorizar
o trabalho feito no campo, mas para
incrementar receitas de rótulos que vem
chamando atenção internacionalmente
(veja quadro).
Do Sítio Kitaguchi, em Mogi das Cruzes, por exemplo,
vem a erva sisho para a Brut IPA matadora que fazem.
Ela é a inspiração para o desenvolvimento do ensaio
fotográfico clicado pelo craque Bruno Fujii, que vemos
nas páginas de Sabor.club.
Ao longo de um semestre inteiro, o fotógrafo, orientado
pelo trio da Japas, percorreu o Cinturão Verde, numa
viagem pelas comunidades de agricultores de ascendência
nipônica. O trabalho, além da beleza estética, promete
fortalecer a ponte que une tradições orientais às inéditas
experimentações cervejeiras. Com talento na união de
conceito, apuro visual e qualidade nos copos, a Japas vem
alcançando resultados empolgantes num mercado que
costuma dar sinais de mais do mesmo.

Nos EUA
*QE/ETEWJSME
única cervejaria brasileira
convidada para o prestigiado
Extreme Beer Fest, em
'SWXSR-SNIEPKYRWVºXYPSW
da cervejaria estão sendo
produzidos na cervejaria
,VIEXSYXL'E]IQ
Long Island.

Sumôƭ.QTIVMEP.5&
com Yuzu. É potente
com a boa acidez
VIWWEPXEHEXEQF ̄QTIP
o uso dos lúpulos Citra
e Cascade no
HV]LSTTMRK

Shiso Brutƭ'VYX.5&
GSQWLMWS&IVZEUYI
PIQFVELSVXIP©IIVZE
doce, muito comum na
culinária japonesa, dá
frescor a bebida seca
e leve, fermentada
com leveduras de
GLEQTERLI

Kasato Maru – New
*RKPERH.5&GSQ
HIOSTSR&XERKIVMRE
japonesa foi descascada.
Com raspas adicionada
à receita. É refrescante
e lupulada com
Lemondrop e Ekuanot.

Black Daruma –
7YWWMER.QTIVMEPXSYX
com caqui Fuyu.
Potente e licorosa, com
RSXEWHIGLSGSPEXI
amargo e um toque da
fruta que traz sorte e
longevidade na
tradição oriental.
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