Sabor Club - Edição 36 (2020-01)

(Antfer) #1

64 | Sabor. club [ ed. 36 ]


QUEM VIU O FILME O JORNAL (The Paper, 1994), com Michael Keaton e
Glenn Close, faz ideia do que é a tara de um jornalista para dizer: “Parem as
máquinas!”, referindo-se a interrupção do processo industrial, porque há um
assunto urgente que precisa ser publicado.
Guardada as devidas proporções, foi isso o que aconteceu por aqui, depois
que eu visitei o novíssimo Mé, da serelepe Renata Vanzetto.
O lugar é uma taverna, antiga por definição, moderna no conceito – coisas
da Renata. Ao ver que o porão do seu badaladíssimo Me Gusta andava muito
mal aproveitado e que ele tinha parede de pedras rústicas mas acolhedoras,
ela não conseguiu segurar a vontade de praticar o seu esporte favorito: abrir
restaurantes. E assim o fez.
A ideia de esconder um lugar muito legal é o que há de mais interessante
nas metrópoles mais bacanas do mundo. Isso faz tempo, desde da época dos

bares speakeasy, feitos para poucos e bons, que queriam beber na época da lei
seca. Pois bem, tirando o aspecto da contravenção, o Mé é exatamente isso.
Se você entrar no Me Gusta e não souber que ele existe ou se souber mas
desconhecer onde é a entrada, não acha nem a pau.
A taverna fica depois dos banheiros, atrás da porta de um antigo armário,
desses com espelho numa moldura de madeira. Isto é, você olha para o fim
do corredor apertadinho e vê... você próprio! Esquece, não acha mesmo.
Quem abre o armário, no entanto, encontra o buraco, na concepção mais
carinhosa da palavra, com teto baixo, luz de velas (apenas!), mesas mínimas,
pelegos e ovelhas por todos os lados. Nas paredes, em prateleiras e até
entrando num buraco do teto.
Bem, a Renata já tinha me contado sobre a paixão dela por emas, bicho que,
aliás, dá nome ao seu restaurante gastronômico no segundo andar da mesma
casa onde o Mé está emburacado. A ovelha é novidade.
Na verdade, ela é apenas uma sacada que parte da adoração da

O lugar é uma taverna, antiga por definição, moderna no conceito,
escondida no porão da casa mais badalada da cozinheira

“O proibido
sempre foi
mais gostoso”
É assim que a
cozinheira trata os
petiscos fritos, com a
sua assinatura

“Eu odeio fazer pratos
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que seja um macarrão a
bolonhesa, em casa.”
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Renata Vanzetto na
cozinha, que se destaca
não só pelas criações
inusitadas mas pela
maneira como ela as
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familiar, fácil de comer e
de gostar. Elas surgem
no Mé com a mais típica
rubrica da cozinheira, em
três únicas sugestões de
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de camarão e emulsão de
tinta de lula, bolinha de
queijo cremosa (“o meu
predileto”) e o croquete de
carne e maionese
“au poivre”.
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