Sabor Club - Edição 36 (2020-01)

(Antfer) #1

66 | Sabor. club [ ed. 36 ]


cozinheira-empresária pelos animais, digamos, esquisitinhos, como a lhama
que representa o Me Gusta. E do som que ela faz – e que o saudoso Mussum,
dos Trapalhões, transformou em sinônimo de bebida.
A trilha sonora toca blues raiz. Os garçons são muito educados e falam
baixo – que bom. O cardápio é conciso, porém muito especial. Traz coisas
como cabeça de polvo, salmão curado, escabeche de mexilhão, num número
de porções limitadas por dia. E, que coisa linda, tábuas de iguarias muito bem
escolhidas de produtores como o A.mar (curados e defumados de peixe), o
Pirineus (embutidos) e a loja Mestre Queijeiro (que garimpa queijos muito
bem afinados Brasil afora). A Renata define: “Não quero servir pratos
principais, somente petiscos. E como a seleção é simples e pequena,
vamos dar muita atenção aos produtos. De gente que, faz tempo, está comigo
nesta jornada de fazer e servir”.

Mais uma vez, a cozinheira acerta na mosca no conceito – e nas escolhas.
A tainha defumada com as ovas curadas dela (bottarga) é uma das melhores
coisas que eu comi esse ano. A cabeça de polvo feita com azeite e páprica
defumada enche a boca de gosto e pede acidez para acompanhar. Ela pode vir
da enxuta carta de drinques ou da seleção de vinhos parrudos, que sugerem
um investimento a mais. E, quer saber?, como ali está tudo muito acertado,
realmente vale a pena relaxar um pouco no orçamento.
Há mais um fetiche no jornalismo que passa pela estranha vontade
(incompatível e incoerente com a essência da profissão) de não divulgar lugares
secretos e muito especiais – para que eles fiquem sempre assim. Como se vê,
sucumbi a mais legítima obrigação de informar. E deixo a dica: nem pense em
convidar a Renata para uma visita à sua casa, se você tiver um espaço ocioso
nela. Periga dela querer abrir um restaurante por lá.

Mé – Rua Bela Cintra, 1.551, subsolo, Jardins – São Paulo – SP

“Não quero servir pratos principais, somente petiscos. A seleção
é pequena, com atenção aos produtos de gente que eu admiro”

High and low
O clima é medieval,
o jogo de louças
traz lindas peças de
antiquário

Lembra dos copos de
ZMHVSǰRSGSQEFSVHE
dourada, muito comuns
no conceito de elegância
tão prezado nos anos 50
e 60? Eles estão no Mé,
assim como os tipo Yarai,
todos esculpidos. Aqui,
os talheres são de prata
ou parecem como tal.
Estranhamente chique
para uma taverna, onde o
esperado são as canecas
de estanho? Sim e não.
&VIWTSWXEHÁFMEI\TPMGE
o conceito de high and
low, muito valorizado na
decoração (e na moda
também), desde o início
dos anos 2000. Ele é
usado na proposta de
decoração que Silvia
Camargo, decoradora
e mãe da Renata,
introduziu nos negócio
HEǰPLEHIWHIUYIEFVMY
o primeiro Marakuthai,
restaurante que colocou
a então jovem cozinheira
no mapa a nossa
gastronomia.
Free download pdf