BOB,OFLAMINGO 87
Em casa, Bob desenvolve outro jogo educativo:
tem por costume proteger outros flamingos em
recuperação, ensinando-os a comer a partir de
um balde. Odette diz que a sua presença ajuda os
flamingos recém-chegados a manterem-se cal-
mos. Bob vive num quarto em casa de Odette, a
“sala das aves”, partilhando esse espaço com dois
outros flamingos resgatados: George e Thomas.
Ambos tiveram uma asa amputada devido a feri-
mentos graves, o que impossibilita o seu regresso
à natureza. George foi mordido por um cão e Tho-
mas foi, possivelmente, atacado por um animal
feroz ou enredou-se em equipamento de pesca.
Muitas das aves resgatadas por Odette es-
tavam emaranhadas em linhas de pesca, uma
ameaça ambiental importante, tal como a po-
luição por plástico, a degradação dos recifes de
coral e a perda das florestas de mangue. Nascida
em Curaçao e dominando o idioma local, Odette
consegue estabelecer ligações com as crianças a
um nível que outros não conseguem.
Pode ser difícil determinar o impacte de um
programa de formação, mas Odette diz que os
alunos se lembram daquilo que ela ensina. Após a
morte recente de uma fêmea de flamingo, emara-
nhada numa linha de pesca, Odette levou a linha
para uma escola e mostrou-a às crianças: “A ave
era tão bonita como o Bob, tão grande, majesto-
sa e saudável como ele, mas como alguém se es-
queceu de uma linha de pesca, ela morreu”, disse.
Semanas mais tarde, os professores disseram-lhe
que as crianças ainda falavam no assunto.
Odette incentiva as crianças a terem orgulho
nos animais selvagens autóctones, incluindo na
população passageira de flamingos-americanos
em Curaçao, com 400 a 600 indivíduos, frequen-
temente avistados a alimentarem-se nos salares
da ilha, usando as patas membranosas para tra-
zer à superfície crustáceos e algas que lhes dão a
sua característica tonalidade cor-de-rosa.
Os flamingos-americanos foram regularmen-
te caçados até ao final do século XIX, pois a car-
ne e as penas tinham vasta procura. A espécie
atingiu então um mínimo de dez mil animais
concentrados numa única ilha das Bahamas.
Desde então, os flamingos-americanos recupe-
raram nas Caraíbas, na Venezuela e no Sul dos
EUA. Existe actualmente um local com mais
de cinquenta mil casais nidificantes, segundo
Jerry Lorenz, director de investigação da orga-
nização Audubon Florida.
Segundo este especialista, os flamingos-ameri-
canos costumam ser sociáveis com os seres hu-
manos e muitas aves resgatadas não podem ser
devolvidas à natureza. São, porém, “magníficas”
embaixadoras da conservação de vida selvagem.
Nos Busch Gardens de Tampa Bay, na Florida,
havia um simpático flamingo chileno, chamado
Pinky, que recebia os convidados no parque e
gostava particularmente de crianças, acrescenta.
Odette calcula que Bob terá 15 anos. Existem
registos de flamingos que viveram 50 anos na
natureza e é provável que possam viver mais
em cativeiro. Por isso, Jasper acredita que ainda
tem muitos anos para documentar esta estra-
nha dupla caribenha.
“Consigo imaginar a Odette já velhinha, sen-
tada numa cadeira de baloiço, rodeada de fla-
mingos por todos os lados”, brinca. j