National Geographic - Portugal - Edição 227 (2020-02)

(Antfer) #1
APÓS HORAS PRESA NUMA REDE DE PESCA,
uma tartaruga-de-couro ferida foi res-
gatada das águas da Meia Praia, em Lagos,
no dia 19 de Junho do ano passado, atra-
vés do esforço da Polícia Marítima, do
Instituto de Socorros a Náufragos e da
comunidade local. A necessidade de
cuidados especiais levou a que este macho
de trezentos quilogramas fosse transfe-
rido de imediato para o Centro de Rea-
bilitação de Espécies Marinhas, Porto
d’Abrigo do Zoomarine, onde permane-
ceu 49 dias em quarentena e recuperação.
O acidente proporcionou aos biólogos
doZoomarineumaoportunidadeúnica
deinvestigação.Aquandodalibertação
(emcima),emAgosto,foifixadonacara-
paçadoanimalumretransmissorde
sinaisdesatélite.Destemodo,a equipa
científicapreviarecolherdadossobrea
viagemdatartarugaderegressoa casa,
comprovandorotasimportantespara

este animal e territórios de eleição para
os comportamentos mais sensíveis da
espécie junto da costa.
A monitorização programada para três
anos de duração foi interrompida ao fim
de 21 dias. Mesmo assim, o intervalo foi
suficiente para intrigar os investigadores.
Desde o momento em que foi libertada
em mar alto, dez milhas ao largo de Por-
timão, a tartaruga-de-couro nadou a
impressionante distância de mil quiló-
metros, até chegar a Fuerteventura, nas
Canárias, uma zona conhecida pela ocor-
rência frequente desta espécie.
Segundoo biólogoÉlioVicente,a coin-
cidênciadesetratardeumazonadetrá-
fegomarítimointensopodeserumadas
explicaçõesparaa libertaçãodoretrans-
missor.Trêssemanasdepoisdainstala-
ção,Quinas,a tartarugaadoptadapelo
Algarve,emancipou-see deixoudecola-
borarcoma ciência.—JoãoRodrigues

Bússola certeira


na incerteza dos mares


JOÃO RODRIGUES

A tartaruga-de-couro
(Dermochelys coriacea)
é a maior tartaruga do
planeta e é especialmente
vulnerável a agressões
físicas, devido à sua pele
frágil e à carapaça mole.

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