National Geographic - Portugal - Edição 227 (2020-02)

(Antfer) #1

EDITORIAL (^) | FEVEREIRO
Quem decide
o que é bonito?
TEXTO DE SUSAN GOLDBERG FOTOGRAFIA DE HANNAH REYES MORALES
MULHERES,
UM SÉCULO
DE MUDANÇA
época do baby boom desapareceu, subs-
tituída por uma multiplicidade que pode
ser apreciada por muitas mais meninas:
todas as cores da pele e formas de olhos,
todas as texturas de cabelos, narizes,
lábios e tipos de corpo diferentes.
“Estamos a caminhar no sentido de
uma cultura de beleza mais abrangente,
para a qual todas somos bem-vindas”,
escreve Robin Givhan. Claro que isto
ainda não é a realidade. Mas, com o
benefício de ter a mesma idade da Barbie
(chegámos ao mundo ambas em 1959),
fico maravilhada com o progresso.
Robin Givhan diz melhor: “A nova
interpretação da beleza desafia-nos a
declarar que alguém que nem sequer
conhecemos é belo. Obriga-nos a seguir o
pressuposto de que as pessoas são boas.
A beleza contemporânea não nos pede
que nos aproximemos da mesa sem juí-
zos de valor. Pede-nos, simplesmente,
para partirmos do princípio de que todos
os presentes têm direito a estar lá.” Obri-
gado por ler a National Geographic.
QUANDO EU ERA JOVEM, tudo aquilo
que eu e as minhas amigas considerá-
vamos bonito era tudo aquilo que eu
não era: altura, cabelo louro liso, olhos
azuis. Queríamos parecer-nos com a
Barbie da década de 1960. Com o rabo
de cavalo louro e uma silhueta absur-
damente inatingível. Todos os dias, o
espelho mostrava-me um reflexo de
como eu, e outras, falhávamos esse ideal.
Como Robin Givhan escreve no ensaio
desta edição, “durante gerações, a beleza
exigia uma figura esguia, mas com
seios fartos e cintura estreita. O maxi-
lar tinha de ser definido e os malares
altos e angulosos. O nariz deveria ser
direito. Os lábios cheios, mas não tanto
que chamassem em excesso a atenção.
Os olhos, idealmente azuis ou verdes,
grandes e brilhantes. O cabelo tinha de
ser comprido, espesso e solto, de prefe-
rência louro. A simetria era desejável.
Tal como a juventude, claro”.
Quando a National Geographic deci-
diu realizar uma série sobre a condição
das mulheres no mundo, discutimos
se escreveríamos sobre beleza. Seria
isso superficial ou uma reprodução
de estereótipos? No final, concluímos
que a cobertura estaria incompleta se
não abordássemos o papel que a beleza
desempenha na vida das mulheres.
Em cada país e cultura, as mulheres
são julgadas, favorecidas ou desfavore-
cidas, pela sua aparência de uma forma
pela qual os homens não são. As redes
sociais aumentam a pressão, com comen-
tários ofensivos sobre o corpo de cada
mulher e ideais contaminados pelo Ins-
tagram. Nem sequer vamos falar sobre a
omnipresença da cirurgia estética.
Ainda assim, os padrões de beleza
da humanidade estão a expandir-se.
A prova é esta fotografia, bem ilustrativa
da evolução. A Barbie homogénea da
Uma fotografia repleta
de Barbies, captada na
empresa fabricante, mos-
tra a forma como a boneca
foi adaptada para se tornar
mais heterogénea e inclu-
siva. “Todos os dias somos
inundados com imagens
de beleza”, diz Hannah
Reyes Morales, que foto-
grafou a reportagem deste
mês. Mas há cada vez mais
movimentos globais
que “procuram reformular
o modo como definimos
a beleza”, acrescenta.

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