National Geographic - Portugal - Edição 227 (2020-02)

(Antfer) #1
REDEFINIRABELEZA 9

“Uma mulher não deve desperdiçar a sua beleza”
era uma frase comum no tempo em que o futuro
de uma mulher dependia de um bom casamento.
A ambição e o potencial do marido deveriam ser
tão espectaculares como as suas belas feições.
A beleza é, evidentemente, cultural. Aquilo que
uma comunidade admira poderá causar indife-
rença, ou até repugnância, a outros. Aquilo que
um indivíduo considera irresistível é banal para
outro. A beleza é pessoal, mas também é univer-
sal. Há belezas internacionais e são essas pessoas
que se tornaram representantes do padrão.
Durante gerações, a beleza exigia uma figura
esguia, mas com seios fartos e cintura estreita.
O maxilar tinha de ser definido e os malares altos
e angulosos. O nariz deveria ser direito. Os lábios
cheios, mas não tanto que chamassem em excesso


a atenção. Os olhos, idealmente azuis ou verdes,
grandes e brilhantes. O cabelo tinha de ser compri-
do, espesso e solto, de preferência dourado. A si-
metria era desejável. Tal como a juventude, claro.
Esse foi o padrão nos primeiros tempos das
revistas femininas, época em que a beleza foi
codificada e comercializada. As grandes belezas
e os “cisnes” (mulheres como a actriz Catherine
Deneuve ou a princesa Grace) aproximavam-se
muito deste ideal. Quanto mais se afastasse des-
ta versão da perfeição, mais exótica a mulher
se tornava. Se se afastasse demasiado, ela seria
simplesmente considerada menos atraente ou
desejável, logo menos valiosa. Para algumas
mulheres negras ou castanhas, obesas ou ido-
sas, a beleza parecia impossível de alcançar na
cultura dominante.
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