National Geographic - Portugal - Edição 227 (2020-02)

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As atitudes estão a mudar, mas o mundo da
moda continua pouco à vontade com as mulheres
corpulentas – por mais famosas ou ricas que se-
jam ou por mais bonitos que os seus rostos sejam.
Elevá-las ao estatuto de ícones é um obstáculo
psicológico complicado para os árbitros da bele-
za: eles precisam de um élan sofisticado nos seus
símbolos de beleza; precisam de linhas alongadas
e ângulos bem definidos; precisam de mulheres
que caibam nos tamanhos das amostras.
No entanto, em vez de funcionarem no va-
zio, estão a funcionar no novo ambiente das
redes sociais. As pessoas normais reparam se
os estilistas têm um conjunto diversificado de
modelos e, caso não tenham, os críticos podem
verbalizar a sua ira nas redes sociais, levando
um exército furioso de almas que pensam da
mesma maneira a clamar por mudança. Os me-
dia digitais aumentaram a probabilidade de as
notícias sobre modelos macilentas e anorécticas


alcançarem o grande público e agora o público
dispõe de uma forma de pressionar a indústria
da moda para que não contrate essas mulhe-
res mortalmente magras. Na Internet, o sítio
Fashion Spot transformou-se num vigilante da
diversidade, publicando relatórios demográfi-
cos regulares sobre as passerelles. Quantas mo-
delos são de cor? Quantas são mulheres corpu-
lentas? Quantas são transgénero? Quantas são
modelos mais velhas?
Poderíamos pensar que, à medida que enve-
lhecessem, as estilistas começariam a desta-
car as mulheres mais velhas no seu trabalho.
No entanto, as mulheres do mundo da moda
pertencem ao mesmo culto de beleza que cria-
ram. Injectam botox e fazem dieta. São adep-
tas dos alimentos crus e do SoulCycle. Quantas
vezes se viu uma estilista rechonchuda? Ou
com cabelo grisalho? As estilistas ainda usam
o termo “velhota” para descrever roupas que
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