REDEFINIRABELEZA 21Ami McClure entrança
o cabelo das filhas na
sua casa de Nova Jersey,
enquanto as gémeas
Alexis (de cor-de-rosa)
e Ava (vestida de roxo),
penteiam as bonecas.
A carreira das gémeas
McClure na indústria
da beleza começou
com o destaque dado
ao seu cabelo natural
depois de se tornarem
populares no YouTube.
Têm quase dois milhões
de seguidores no
Instagram.NO OCIDENTE, os órgãos de comunicação social
convencionais partilham agora a influência com
os órgãos digitais, as redes sociais e uma nova
geração de escritores e editores que se tornaram
maiores de idade num mundo mais multicultu-
ral, um mundo com uma opinião mais fluida de
género. A geração millennial, constituída pelos
indivíduos nascidos entre 1981 e 1996, não é pro-
pensa a adaptar-se à cultura dominante, prefe-
rindo destacar-se com orgulho. A nova definição
de beleza está a ser escrita por uma geração de
selfies: pessoas que são as estrelas de capa das
suas próprias narrativas.
A nova beleza não se define pelos penteados
ou pela forma do corpo, pela idade ou pela cor
da pele. A beleza está a tornar-se menos uma
questão de estética e mais de autoconsciência,
autoconfiança e individualidade. É sobre braços
esculpidos, pestanas falsas e uma testa sem ru-
gas. Mas também é sobre ventres arredondados,
cabelos prateados reluzentes e imperfeições
mundanas. Beleza é uma millennial pavonean-
do-se pela cidade vestida de leggings e top curto,
com a barriga sobressaindo sobre o cós. É um
rapaz descendo pela passerelle com botas acima
dos joelhos e calções pelas coxas.
Beleza tem que ver com correcção política, es-
clarecimento cultural e justiça social.EM NOVA IORQUE, existe um colectivo de moda
chamado Vaquera que organiza desfiles em cená-
rios dilapidados com luz dura e sem qualquer
glamour. Asmodelospoderiamtersaídodacar-
ruagemdecomboiodepoisdeumanoitemaldor-
mida.Trazemo cabelodespenteado.Asuapele
parececobertaporumapelículafinae brilhante
deoleosidadenocturna.Pisamcomforçaapas-
serelle. Asuamaneiradeandarpodeserinterpre-
tadacomozangada,desastradaouapenas
ligeiramenteressacada.
Modeloscomaparênciamasculinaenvergam
vestidosdeprincesa,quelhespendemdosom-
broscomtodoo encantodeumacortinadedu-
che.Modeloscomaparênciafemininaandam,rá-
pidae agressivamente,comumaposturaencur-
vadae expressãosombria.Emvezdealongarem
aspernase criaremumasilhuetadeampulheta,
asroupasfazemaspernasparecercompactase o
troncoatarracado.Vaqueraé umadeváriasem-
presasqueseleccionamosseusmodelosnarua,
o quesignificaescolherpessoasexcêntricase pô-
-lasnapasserelle. Noessencial,a empresadecreta
quesãobelas.não são atraentes. Um vestido de “matrona” é
um vestido que não favorece as formas ou pa-
rece antiquado. A linguagem evidencia o pre-
conceito. Hoje em dia, porém, as mulheres não
o aceitam sem pestanejar. Revoltam-se. Usar a
palavra “velho” como sinónimo de não atraente
não vai durar.
A disseminação de marcas de luxo na China,
na América Latina e em África forçou os estilis-
tas a pensarem na melhor forma de venderem os
seus produtos a estes consumidores, evitando
simultaneamente os campos culturais minados.
Tiveram de navegar entre o aclaramento da pele
em algumas zonas de África, a cultura de Loli-
tas fofinhas do Japão, a obsessão por cirurgia às
pálpebras em determinados países do Leste da
Ásia e preconceitos em relação à cor em... bem,
em todo o lado. A beleza idealizada precisa de
uma nova definição. Quem a cunhará? E qual
será essa definição? (Continua na pg. 26)